O aleijado das duas pernas estava no circo, lá em cima, na última fila da arquibancada, quando o leão se soltou da jaula. Foi a maior correria – todos tentando sair do circo; e aí alguém se lembra e grita: “Pega o aleijado! Pega o aleijado!” Indignado, o aleijado reage: “rapaz, deixa o leão escolher”.
A anedota não tem nenhuma discriminação; pelo contrário, ilustra perfeitamente a situação do deputado federal José Dirceu (PT-SP), que continua o todo-poderoso primeiro-ministro do governo, embora tenha se afastado do Gabinete Civil. Sem dúvida o mentor do esquema para arrecadar dinheiro ilícito, todos gritam para pegar o Zé Dirceu e, igual ao aleijado da anedota, ele repete o refrão: deixe o leão escolher.
E o “leão” parece hesitar – todos parecem ter medo de Zé Dirceu; não é o medo do confronto corporal, mas da língua; do que o todo-poderoso pode dizer sobre todos. Diante dos processos de cassação, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB), tomou uma decisão aparentemente correta – devolveu o processo à Comissão de Ética, justificando que só ela ouviu acusados e testemunhas.
Seria a decisão sensata se ela não abrisse a chance que Zé Dirceu quer para levar o seu processo ao Supremo Tribunal Federal (STF); lá, o todo-poderoso Zé Dirceu garante que não será cassado; ele aposta em que o STF reverterá qualquer decisão política tomada pela Câmara que o leve a perder o mandato.
Ocorre que Zé Dirceu é tão culpado quanto Marco Valério, Delúbio Soares, Valdomiro do bingo e o Zé Pereira Land Rower. E é infinitamente mais culpado que Roberto Jéferson, único até agora que foi punido – e até agora, pelo que se desenha, foi punido não pelo erro, mas por tê-lo denunciado.
Ora, se Zé Dirceu não é inocente; se agiu e continua agindo como primeiro-ministro que manda e desmanda no PT e no governo, então o que o faz confiar tanto na sua absolvição no STF? Será a genialidade seu defensor? Ou será que Zé Dirceu acredita mesmo é no dossiê que fez a partir da quebra (ilegal) de sigilo bancário, fiscal e telefônico na CPI do Banestado?
Pelo sim, pelo não, é bom a sociedade organizada sair às ruas contra a pizza; sem a revolta da massa não parece haver salvação – o “leão” que fugiu do circo de Brasília está mais para um tigre…de bengala, sem dentes e sem garra.