Às vésperas do referendo em que a população decidirá sobre a proibição ou não da venda de armas no Brasil, uma das principais fabricantes de pistolas do mundo, a austríaca Glock, anuncia a sua intenção de construir uma fábrica no país.
A empresa já enviou um pedido de autorização ao Exército e aguarda apenas a resposta para dar início às obras. O Exército informou nesta sexta-feira que ainda não existe previsão de quando deve se pronunciar sobre o assunto.
O diretor-geral da Glock na América, o brasileiro Luiz Antonio Horta, 43, disse que a empresa deve investir cerca de R$ 20 milhões para construir a fábrica em Campinas (95 km a noroeste de São Paulo), a primeira filial da empresa da Áustria.
A unidade deverá gerar 500 empregos e produzir, em média, 30 mil armas por ano. Hoje a Glock produz por ano cerca de 550 mil pistolas semi-automáticas. O faturamento anual é da ordem de US$ 250 milhões.
Horta aponta que a eventual vitória do "sim" no referendo não atrapalha as intenções da Glock no Brasil. Segundo ele, a empresa não visa o público civil, mas sim as polícias e Forças Armadas, e pretende exportar para a América Latina, EUA, Ásia e Oriente Médio.
"A Glock quer expandir os seus horizontes, encontrar um país onde ela possa ter uma fábrica de melhor tecnologia, com impostos, custos trabalhistas, mão-de-obra e insumos mais baratos", disse Horta.
O governo brasileiro substituiu as Taurus utilizadas pelos agentes de segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por pistolas da Glock.
Horta também faz questão de desmentir uma informação disseminada na internet nas últimas semanas, dando conta de uma parceria entre a Glock e a Rede Globo. "A única coisa em comum entre as empresas é a primeira letra dos nomes."
Repercussão
De acordo com pesquisador de assuntos militares da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Expedito Bastos, as armas da Glock têm uma qualidade muito superior a das armas nacionais, que deverão perder vendas internas.
"Mas considero um risco a polícia e as Forças Armadas adotarem armas da Glock, porque ficaríamos dependentes de uma empresa estrangeira que pode, a qualquer momento, deixar o país."
O presidente da Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa), coronel da reserva Roberto Carvalho, disse que a compra de armas da Glock pelo governo mostra que o presidente Lula "está cedendo a pressões internacionais para desmontar a indústria nacional de defesa".
A reportagem procurou a assessoria do governo, mas não teve resposta para que se comentasse o assunto.