O cientista social e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, Geraldo Tadeu Moreira, disse que a vitória do "não", no referendo de 23 de outubro, serviu como um recado da população de que são "totalmente ineficazes as políticas de segurança pública". A afirmação foi feita durante uma entrevista hoje à Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
"Na região sul, por exemplo, onde houve maior peso de votação para o ‘não’, a taxa de criminalidade é o dobro da média nacional. Isso explica claramente o descontentamento da população. Também acho que, para o ‘não’, convergiram várias razões como a crise política, moral, o descrédito nas instituições e a insatisfação da opinião pública com o crescimento da violência", disse Moreira.
Segundo o cientista social, outro fator que teria contribuído para a vitória do "não" foi o erro na estratégia da campanha do "sim". "O ‘sim’ atuou de uma maneira bastante leviana, porque, partindo das pesquisas que davam ao ‘sim’ uma vitória com 70%, não houve uma preocupação de embate, para um grande debate. Parecia uma campanha meramente ratificatória. Aquela campanha com muitos artistas e intelectuais de branco parecia uma campanha festiva, em que nós caminharíamos alegremente para um monte sem armas e cheio de pombas brancas", disse.
Para Moreira, a campanha do "não" foi muito mais objetiva, permitindo que houvesse uma grande virada nas intenções de voto, passando dos 70% que inicialmente votariam no "sim" para os mais de 60% que votaram no "não" no referendo de ontem.
"A questão do direito à arma não foi o mais importante (na campanha). O mais importante foi justamente a idéia de que a política de segurança está falida e que o governo seria incapaz de desarmar os bandidos. Ou seja, haveria um desarmamento unilateral por parte da população, uma medida inócua que não seria capaz de resolver a situação e que tornaria a população ainda mais indefesa."