Troca de acusações, desmentidos, bate-boca e ausência de provas documentais marcaram a acareação entre João Francisco e Bruno – irmãos do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002 – e o chefe do gabinete pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, realizada nesta quarta-feira (26) pela Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos. Na reunião, Gilberto Carvalho acusou os irmãos de tentarem transformar a morte de Celso Daniel em um grande jogo político, "de forma a denegrir a memória de um homem sério, honesto e que honrou o PT".
O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), quis saber então de Gilberto Carvalho os nomes de quem estaria interessado nesse jogo político e se o chefe de gabinete estaria se referindo à oposição. Em resposta, Gilberto Carvalho não quis dar nomes, mas disse que todos os presentes à reunião da comissão sabiam quem se beneficiaria com tal jogo.
O chefe de gabinete do presidente Lula disse também que se empenhou pessoalmente para que a morte de Celso Daniel fosse esclarecida e que, portanto, não devia e não temia "nada em toda essa história".
Bruno chegou a afirmar que Celso Daniel encarava a arrecadação de propina em Santo André para o PT "como um "mal necessário". Gilberto protestou contras essas afirmações e lamentou que Celso não estivesse vivo para combatê-las. No primeiro depoimento, Bruno revelou que o irmão assassinado "poderia até ter-se beneficiado da corrupção".
João Francisco e Bruno voltaram a afirmar que o assassinato de seu irmão "foi encomendado" e que Gilberto Carvalho – que na época exercia o cargo de secretário de comunicação de Celso Daniel – sabia da existência do esquema de corrupção em Santo André que, na prática, envolvia cobrança de propina por parte de membros da prefeitura a empresas de ônibus e de lixo da cidade.
Os dois irmãos garantiram que Gilberto Carvalho, por diversas vezes, transportou para a cidade de São Paulo malas de dinheiro em seu próprio carro – um Corsa preto – que eram entregues ao então presidente do PT José Dirceu para a formação de um fundo a ser usado em campanhas eleitorais. Em uma só viagem, informaram, Gilberto Carvalho teria levado para Dirceu R$ 1,2 milhão. O chefe de gabinete negou as acusações de que tivesse transportado dinheiro para Dirceu, classificando-as de "mentirosas, falsas e de grande criatividade".
João Francisco reafirmou que Gilberto Carvalho foi ao apartamento dele após a missa de sétimo dia de Celso, no dia 26 de janeiro de 2002, oportunidade em que teria detalhado todo o funcionamento do esquema de corrupção em Santo André. Disse que ficou atônito diante da riqueza das informações e que encarou a decisão de Gilberto Carvalho de contar o suposto esquema como uma tentativa de intimidá-lo, quando deixou no ar dúvidas de que o prefeito também poderia ter conhecimento do esquema e dele ter participado. Bruno, que estava presente na sala em que ambos conversaram, confirmou o ocorrido.
Gilberto Carvalho confirmou que esteve no apartamento de João Francisco no dia 26 de janeiro de 2002, mas afirmou que o fez apenas para dar apoio à família e colocá-la a par das investigações do crime que acabaram de ser iniciadas e que jamais conversou sobre possíveis atos de corrupção dentro da prefeitura.