"Temos de enfrentar o problema da corrupção e da brutalidade policial a sério no Rio de Janeiro, trabalhando paralelamente com os investimentos sociais nas áreas mais pobres com a juventude vulnerável", defende o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de segurança pública. "Ou vamos ter Bem-te-vis morrendo todos os dias", alerta.
Soares deu entrevista hoje (29), à Agência Brasil, para comentar a morte de Erismar Rodrigues Moreira, conhecido como Bem-te-vi. Chefe do tráfico de drogas na favela, foi morto na madrugada de hoje em um confronto com a polícia do Rio de Janeiro durante a Operação Tróia.
"Não adianta tratarmos do caso do Bem-te-vi imaginando que isso poderia ser um ponto de inflexão. O único ponto de mudança vai ser quando efetivamente as condições que geram esse problema forem alterados. Essas condições são institucionais, políticas e sociais", afirmou Luiz Eduardo.
Para ele, a mudança só ocorrerá se as instituições policiais passarem por uma "reforma profunda" para que elas atuem de forma "mais moderna e racional, respeitando sempre os diretos humanos e as leis".
O antropólogo disse ainda que o governo e a sociedade civil devem trabalhar juntos e fazer mais investimentos sociais nas favelas voltados para a "juventude vulnerável". Luiz Eduardo afirmou também que é necessária uma ação que "purifique as polícias".
Soares destacou que novas pessoas serão escolhidas para chefiar o narcotráfico da favela. "Essas mortes não produzirão alteração nessa dinâmica porque ela se reproduz recrutando novos jovens sem perspectiva para que eles façam o trabalho dos que morreram e para que eles morram logo adiante", disse.
O antropólogo afirmou que não tem detalhes da Operação Tróia e não saberia dizer se ela foi violenta. "Não adianta discutir se a operação foi muito boa, bem feita, bem realizada. Tomara que tenha sido tudo isso. Isso, entretanto, nada vai mudar no panorama da violência do Rio de Janeiro como os últimos 20 anos deixam claro", disse.
O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, disse hoje que a operação foi resultado de um trabalho de inteligência. Ele ressaltou que nos últimos dois anos e meio foram presas 74 das chamadas lideranças do tráfico de drogas.