Uma vida triste e mornada tinha aquela comunidade de periferia. As mocinhas depois do horário escolar ficavam na janela, ouvindo música no rádio, sonhando em adquirir a última novidade em aparelho celular, falando do último show da banda de forró eletrônico do momento ou coisas do gênero; num mundo cheio de incertezas, inseguranças e injustiça social.
De tanto ver televisão só pensavam em consumir. Contudo, como ter acesso ao consumo vivendo naquele bairro pobre? Isso as angustiava de certo modo. Quando arranjavam um namorado dava pra se distrair um pouco a noite; algumas procuravam colocação no subemprego. As escolas públicas prendiam-se apenas as aulas curriculares e uma merenda. Enfim, tudo era meio chato para aquela moçada.
Os rapazes ficavam na esquina fazendo hora depois das aulas ou numa dessas lojas de jogos de rede que anda se espalhando pelos bairros da cidade. Esta vida sem criatividade era um pouco tediosa.
A comunidade tinha certa preocupação com seus jovens, porque o poder público mesmo depois da constituição de 1988 não deu a atenção merecida ao esporte. Via-se, por exemplo, que na escola não havia um espaço para o esporte e o lazer. Ficava aquela turma toda enjaulada dentro daquele prédio sem nenhuma atividade neste sentido. Isso é de doer na gente.
Às vésperas das eleições, certo candidato a vereador achou de transformar a praça abandonada num espaço para prática de futevôlei e ginástica. Limpou a pracinha, preencheu-a de areia, colocou uns equipamentos de ginástica e até uns balancinhos pras crianças. É claro que suas intenções foram meramente eleitoreiras, tanto é que ele não mais apareceu por lá, mas, pelo menos foi feito alguma coisa.
O fato é que a praça mudou, ficou mais movimentada e atraiu até a abertura de uma lanchonete, além de uma pequena banca de revista. Apareceu também um vendedor de caldo de cana com pastel e bolinho bate-entope, o qual fica concorrendo com um antigo vendedor de coco verde e refresco.
Mais tarde na praça iluminada, o futevôlei entra noite adentro; um cara montou um churrasquinho e tem sempre uma turma tomando uma gelada. É lamentável que não haja mais espaços públicos na área.
Quem revolucionou mesmo a vida da comunidade foi a ONG do professor Lelo, que veio pra somar. Ele construiu lá em mutirão um galpão criando um espaço para ensinar dança afro, prática de capoeira e berimbau, além de criar uma oficina de teatro.
O espaço também se destina a shows e eventos de artistas locais, e tem um convênio com o poder público para oferecer uma merenda aos praticantes da sua escola cultural. Próximo, um pequeno empreendedor abriu uma academia de ginástica a preço popular.
Assim, aos poucos as pessoas foram buscando o esporte. Hoje há mais vida na comunidade, mais amizade, mais socialização, mais agito, e porque não dizer, mais namoro. No próximo dia do halloween vai haver um baile no espaço do prof. Lelo com a escolha do casal mais apaixonado.
Vamos torcer para que o senado federal aprove o projeto bolsa/atleta, pois vai ajudar muita gente que quer se dedicar ao esporte. Mas não vamos ver o esporte apenas como carreirismo seletivo, e sim como uma forma de bem viver, de participação e integração, porque ele é sem dúvidas um grande instrumento que os municípios têm juntamente com a sociedade organizada para fazer a vida da comunidade mais feliz.