A ameaça do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) de dar "uma surra" no presidente Luiz Inácio Lula da Silva gerou polêmica ontem no Congresso e ganhou pelo menos mais dois adeptos: a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
O primeiro a causar alvoroço no plenário da Câmara prometendo a "surra" foi ACM Neto que, irritado, acusou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de "monitorá-lo" desde que assumiu a sub-relatoria da CPI dos Correios que investiga fundos de pensão.
"O presidente da República, ou qualquer um dos seus que tiver coragem de se meter na minha frente, assim como disse o senador Arthur Virgílio, tomará uma surra. Não me intimido. Tenho coragem e vou até o fim. Não mexam com os meus nem comigo, porque estou pronto para me defender", disse.
ACM Neto afirmou que seus telefones foram grampeados em uma ação extra-oficial da Abin. Ele disse que detectou o "grampo" após uma pessoa ligada à agência de inteligência, cujo nome não foi revelado, relatar trechos de conversas suas.
A assessoria do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência divulgou nota na qual afirma que as informações "carecem de fundamento" e que a Abin está "imune a ingerências político-partidárias que possam vir a desvirtuar a sua atuação".
O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) reagiu em defesa do presidente: "Não é isto que a imunidade parlamentar nos confere: nem a bravata, nem a arrogância, nem tampouco o espírito antidemocrático e valentão". Fernando Ferro (PT-PE) disse que as ameaças são "coisa de moleque".
No Senado, Heloísa Helena afirmou que, ao contrário do líder do PSDB, que usou o futuro do pretérito, ela faz a ameaça de dar uma "surra" em Lula no presente. "Eu não seria capaz não, eu sou capaz. Se tocar em um filho meu, pode ser senador, presidente da República, eu viro uma onça", disse.
Virgílio subiu à tribuna novamente e reafirmou: "Eu dou ordem ao meu gabinete de não alterar minhas palavras nas notas taquigráficas. Quando me referi à surra eu me referi à surra". O discurso do tucano foi criticado por petistas. "Muitas vezes fui crítico ao presidente Fernando Henrique Cardoso, mas sem perder o respeito a ele", disse o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
"O senhor tem todo o direito de bater em quem estiver envolvido nisso, mas não de dizer, sem qualquer prova, que daria uma surra no presidente Lula. Temos que fazer esse debate com o respeito que as figuras políticas merecem", afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).