O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou ontem que vai pedir ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, explicações sobre o relatório interno da Polícia Federal em que outro órgão da pasta é acusado de dificultar o acesso a documentos sobre as investigações do "mensalão".
Revelado ontem pela Folha, o relatório interno da PF acusa o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional) de "criar obstáculos" para o acesso aos documentos sobre as contas do publicitário Duda Mendonça no exterior. O publicitário revelou ter recebido US$ 10,5 milhões de campanhas petistas numa conta nas Bahamas. O dinheiro teria saído do caixa dois do PT.
"A matéria da Folha ratifica a minhas preocupações com relação às investigações", disse Delcídio. "Diante dessas informações, vou conversar com o ministro. Está na hora de fazer uma reunião de coordenação entre ministério da Justiça, PF e integrantes da CPI", disse ele, que vinha cobrando dados das movimentações de Duda Mendonça no exterior.
O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou que vai pedir cópia do relatório interno ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda. "Sempre tivemos a impressão de que existia uma máquina para obstruir a gente, mas não dá para saber se isso é orquestrado."
O líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), determinou que os integrantes tucanos da CPI dos Correios apresentem requerimento de convocação do ministro Thomaz Bastos para prestar esclarecimentos. "Se o caso ficar comprovado, o ministro poderá ser enquadrado por crime de responsabilidade", disse Goldman.
Em nota conjunta, Ministério da Justiça e PF afirmam que as ações desenvolvidas por DRCI e polícia "estão sendo realizadas em absoluta normalidade e colaboração mútua dos órgãos vinculados" ao ministério. Sem citar o relatório da PF, diz que DRCI e PF "trabalham em sintonia com a Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro".
Recente portaria do ministério ampliou poderes do DRCI, que a PF acusa de atrapalhar o acesso às informações obtidas no exterior.