Imagine um príncipe herdeiro de trono no primeiro mundo, nascido no Brasil e filho de pai francês.
Agora pense no que os ingleses imaginaram, no final do século 18, ao verem o País que eles haviam tornado “independente”, em 1822, bandear-se para o inimigo – entre a Inglaterra e a França havia tal ressentimento; as ameaças e as guerras com Napoleão Bonaparte ainda estavam vivas no inconsciente da sociedade inglesa.
Não é fácil sustentar a versão de que foi a Inglaterra que derrubou a Monarquia brasileira, mas, pior é aceitar que foram os monarquistas que proclamaram a República – e é verdade; até o dia 14 de novembro o marechal Deodoro dava instrução aos seus comandados para reagirem em defesa do Imperador; foi o marechal que cunhou a frase: ruim com ela (Monarquia) pior sem ela.
No dia 15 o marechal proclamou a República e os antigos monarquistas assumiram o poder, inaugurando a prática tacanha do fisiologismo – câncer que corrói até hoje a classe política.
A união da família imperial brasileira com a França deu-se pelos casamentos das filhas de Pedro II com nobres franceses; e isto levou os ingleses a pôrem as barbas de molho. Além da questão política com a França havia a questão econômica – o Brasil era o mercado emergente para moendas, ferrovias, portos, serviços telegráficos, tecidos, etc. E produzia algodão, matéria-prima básica para os insaciáveis teares ingleses.
Somente assim dá para entender o que se sucede até hoje; depois de mais de 100 anos e várias repúblicas – velha, nova; de golpes e contragolpes – o Brasil ainda vive em busca da estabilidade republicana; e de tantos desencontros – e isto é conseqüência de tudo o que principia errado – vivemos hoje no País que adotou o sistema presidencialista de governo, mas rege-se por uma Constituição Parlamentarista.
Na data de mais uma aniversário da “Proclamação da República”, talvez seja prudente discutir o fim da Monarquia; não custa repetir o que disse o professor, ex-ministro da Educação e senador Cristovão Buarque (PDT-DF) sobre os “títulos” que a República adotou: na Monarquia a elite era tratada por conde ou barão; hoje é “doutor ou excelência”.
Sinal intrínseco, mas sutil, de que é preciso fazer da República brasileira uma República de verdade.