Se disputar a Câmara Federal, o ex-presidente Fernando Collor de Mello se elege e ainda arrasta mais dois deputados com ele – das nove vagas na Câmara, três são dele. Esse é o quadro traçado pelas pesquisas que seus adversários mandaram fazer, para saber a intenção do eleitorado no pleito majoritário de 2006.
A performance do ex-presidente Collor não surpreende – ele é dono do acervo de 400 mil votos; o resultado da pesquisa acabou surpreendendo mesmo os seus patrocinadores, quando mostrou que o pleito majoritário do ano que vem terá duas estrelas: o ex-presidente e a senadora Heloísa Helena.
O presidente do Congresso Nacional e do Senado, Renan Calheiros (PMDB), também brilha, mas em terceiro lugar – este desempenho faz o senador pensar duas vezes antes de confirmar se é candidato a governador.
ACONTECIMENTOS
O ex-presidente mantém as aparências de não discutir candidaturas e até afirma que não vai disputar cargo eletivo algum, mas não é isso o que dizem seus correligionários.
O procurador de Justiça aposentado, Carlos Mendonça, o assessor mais próximo de Collor, é também o mais reservado, mas curva-se diante dos fatos – “Ele (Collor) está sendo levado pelos acontecimentos”, diz, referindo-se ao quadro político nacional com o desgaste do PT e do governo Lula, ex-arautos da moralidade e da ética.
As desgraças petistas fazem hoje a felicidade de suas antigas vítimas, entre elas o ex-presidente Collor; ele sofreu o impeachment por causa de um Fiat Elba, infinitamente desprezível em relação à camionete de luxo de um “aspone” petista – isto sem falar que seu tesoureiro, PC Farias, não desviou dinheiro público e ele, Collor, nunca pagou “mensalão”.
Os “acontecimentos” que levarão o ex-presidente à disputa eleitoral no ano que vem estão mais do que evidentes também em nível estadual.
NO PÁREO
Em todas as pesquisas realizadas para a disputa majoritária em Alagoas, o nome do ex-presidente é citado sem indução, ou seja, o eleitor aponta o nome dele por livre e espontânea vontade, o que valoriza ainda mais o resultado.
Apenas uma vaga estará em disputa para o Senado e o governador Ronaldo Lessa (PDT), candidato natural, depende do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) derrubar a sentença do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que o tornou inelegível por abuso de poder econômico; e há quem considere impossível a reversão do resultado.
Se isto ocorrer, o governador terá de concluir o mandato e não se sabe qual o desdobramento; há quem aponte que Lessa caminhará na direção da senadora Heloísa Helena, apoiando a sua reeleição ou até a candidatura ao governo do Estado.
No outro lado, o senador Renan Calheiros manobra em várias frentes na tentativa de manter o governador sob controle; o anuncio da candidatura do deputado federal Olavo Calheiros (PMDB), como da ex-prefeita Célia Rocha (PSDB), para o Senado, não prosperariam sem o aval do presidente do Congresso Nacional.
A PEDRA
A candidatura do ex-presidente Fernando Collor de Mello para a Câmara Federal provocaria estragos irremediáveis na estrutura de poder no Estado; ele teria 1 terço das vagas e isto significa que 3 dos atuais deputados federais estariam eliminados por antecipação – não conseguiriam se reeleger.
Nos comentários dos analistas, Collor viraria uma espécie de Partido – e nenhum partido em Alagoas elege de uma vez três deputados. O ex-presidente também não simpatiza muito com a Câmara – ele prefere o Senado.
Elegendo-se senador, Collor quebrará o tabu da República; jamais um ex-presidente chegou ao Senado pelo Estado de origem – Jucelino Kubstichek, mineiro, foi senador por Goiás e José Sarney, maranhense, é senador pelo Amapá.
Em posição favorável qualquer que seja o cargo a disputar, Collor tornou-se mais uma pedra no caminho do senador Renan Calheiros; além do deputado federal João Lyra (PTB), já em campanha para o governo do Estado, o presidente do Congresso terá de contornar a sombra do ex-presidente.
A hipótese de Collor disputar a vaga de senador é a mais provável, apesar de alguns aliados insistirem pela Câmara Federal – estes agem por interesses próprios; também são candidatos a deputado federal e querem se eleger na carona dos votos do ex-presidente.
O ano que está terminando, ao contrário do que muita gente pensa, está definido no que se refere à chapa oposicionista liderada pelo deputado João Lyra; quem estão indefinidos no processo são os senadores Renan Calheiros e Teotonio Vilela Filho (PSDB). Mesmo antigos adversários, como o ex-deputado federal Régis Cavalcante (PPS), atual secretário municipal de Educação, agem com cautela. Régis não diz que vai apoiar o ex-presidente; ele prefere ensinar que “não se faz política com sectarismo”.