"Traz" ou "trás"?

Traz ou trás?

“Fernando Lira conta que para qualquer pessoa – mais precisamente empresários e políticos – que quer transferir recursos, sem que esse dinheiro seja registrado pelo Banco Central, por traz deles está sempre a figura de um doleiro (…)”

O trecho reproduzido acima foi extraído de texto (publicado no jornal “Tribuna de Alagoas”) no qual o economista Fernando Lira explica como se fazem remessas de dólares para o exterior.
O que mais chama a atenção nesse fragmento, do ponto de vista gramatical, é a confusão entre as palavras homônimas “traz” e “trás”. O redator usou a forma do verbo “trazer” onde seria esperada a preposição “trás”.
“Traz”, com a letra “z” no final, é forma do verbo “trazer”, que também se escreve com “z”. Assim: “Ele traz as unhas e os cabelos aparados”.
“Trás”, com a letra “s” no final e o acento agudo no “a”, pode ser a preposição que expressa a idéia de anterioridade e/ou daquilo que se esconde sob falsa aparência ou um advérbio que indica o que está na parte posterior ou o que está depois de algo, além de algo.
Na origem, “trás” quer dizer “além de”. Vale a pena lembrar o nome da província portuguesa de Trás-os-Montes, cujo significado é “além dos montes”.
A locução prepositiva “por trás de”, que deveria ter sido usada no texto, significa “às escondidas de”, “às ocultas de”.
Além do problema de grafia, mais visível, há uma questão de organização sintática do texto. O trecho “por traz deles” (sic) deveria ter retomado a expressão “para qualquer pessoa”, não a expressão que está entre travessões (“empresários e políticos”).
O melhor mesmo, todavia, seria ter posto a locução prepositiva antes de “qualquer pessoa” – afinal, a idéia era dizer que a figura do doleiro está por trás de qualquer pessoa que quer transferir recursos sem que estes sejam registrados pelo Banco Central.

Veja, abaixo, uma sugestão para reformular o texto:

Fernando Lira conta que, por trás de qualquer pessoa – mais precisamente empresários e políticos – que quer transferir recursos sem que esse dinheiro seja registrado pelo Banco Central, está sempre a figura de um doleiro.

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