Falta de professores e uma política salarial considerada insegura. Esses problemas nas universidades federais foram expostos pela greve dos docentes, que dura 101 dias e atinge 37 das 61 instituições. Há um consenso entre reitores, professores e o próprio MEC (Ministério da Educação) de que faltam 8.000 docentes na rede, o que representa 15% do total.
Hoje, esses postos são ocupados por professores substitutos, que ganham de R$ 400 a R$ 700, em geral. "Como conseguir gente qualificada com esse salário?", diz o presidente da Andifes (associação que reúne os reitores), Oswaldo Baptista Duarte Filho.
Professora de ciência política, Cristiane Leyendecker, 33, ganha R$ 700 na UnB (Universidade de Brasília) e dá aulas em mais três cursos privados. "Quase não tenho tempo para preparar a aula."
"A insegurança e o baixo salário forçam o professor a buscar outro emprego", diz Francisco Lacaz, presidente da associação de docentes da Unifesp (federal de São Paulo), cujos professores suspenderam anteontem a paralisação.
A associação diz que, no começo da década passada, 70% dos docentes se dedicavam exclusivamente à Unifesp; neste ano, 40%. Para a estudante de medicina Vivian Cirineu, 23, o pior está por vir. "A reposição [de aula após a greve] não tem a mesma qualidade. Fica tudo corrido."
O governo admite o problema, diz o secretário-executivo-adjunto do MEC, Ronaldo Teixeira, mas culpa a gestão do ministro tucano Paulo Renato Souza. Teixeira diz que 6.000 docentes serão contratados até o final de 2006.
Apesar de concordarem com o diagnóstico, governo e docentes ainda não entraram em acordo com relação ao reajuste salarial, por isso a paralisação persiste.
As duas partes também concordam que a atual composição salarial é ruim (75% da remuneração vêm de gratificações). O vencimento básico da maioria vai de R$ 700 a R$ 1.100. "Gera insegurança. A gratificação pode ser retirada de uma hora para outra", diz o vice-presidente do Andes (sindicato dos docentes), Paulo Rizzo.
O ex-ministro Paulo Renato discorda do quadro apresentado por reitores, professores e pelo governo Lula. Sobre a falta de docentes, ele admite que em sua gestão cada professor ficou, em média, responsável por mais alunos -a relação subiu de oito estudantes por docente para 11. Mas, para ele, é um uso melhor dos recursos.
"Os nossos índices ainda são baixos. Nas melhores universidades do mundo, a relação é de 16 para 1." O ex-ministro diz que a gratificação melhora a qualidade do sistema, pois o "bônus" leva em conta a produtividade do docente.