O milionário mercado da vaquejada

Cícero Toledo diz que abandonou as pistas por causa do profissionalismo dos vaqueiros
Cícero Toledo diz que abandonou as pistas por causa do profissionalismo dos vaqueiros

No começo era por necessidade e depois virou esporte; agora a vaquejada é uma competição campesina que movimenta milhões de reais – quantos? Não é fácil somar; o preço de um cavalo pode chegar a R$ 100 mil ou cinco carros Celtas zero quilômetro.

Mas o negócio não está só na pista; o “filé” não está no lombo do boi, mas no comércio musical que vende 1 milhão de discos de uma tirada só e reúne 80 mil pessoas em média por shows.

A transformação operada na vaquejada afugentou antigos corredores, como o empresário Cícero Toledo, 60, que ainda exibe a cicatriz do acidente com o boi duro na queda, e que ele colocou no chão à força.

“Quebrei o dedo”, mostra a atrofia no anular da mão direita. Toledo conta que antes quem corria vaquejada era o fazendeiro e aí a competição era de igual para igual; não havia profissionais. “Hoje, quem corre é o vaqueiro e como é que vou competir com um cabra que está todo dia derrubando boi? Não dá”, explicou.

HISTÓRICO

No começo não havia cercados e a vaquejada era o meio de o fazendeiro juntar o gado, criado solto, para contá-lo e marcá-lo. Com a incompatibilidade da pecuária na zona canavieira – o gado destruía as lavouras – a corte portuguesa concedeu autorização para se penetrar no sertão e fundar currais de gado; mas não havia o arame farpado; não se conhecia cercas e a terra era à perder de vista.

Criado solto na caatinga, o gado levava a vida semi-selvagem; o vaqueiro tinha contato com o rebanho de vez em quando e o controlava pelo chocalho. Quando tinha de reunir o gado no pátio da fazenda a tarefa virava uma festa; o fazendeiro, apressado para terminar logo o serviço, prometia premiar quem conseguisse pegar o maior número de bois.

Vem daí a história do vaqueiro Raimundo Jacó, primo de Luiz Gonzaga, e considerado como o “maior pegador de boi” de Serrita, no sertão pernambucano – ele foi assassinado por inveja, depois de pegar o boi mais bravo da região.

No local onde Raimundo Jacó foi encontrado é celebrada a “missa do vaqueiro”, que começou na década de 1950 com o padre João Câncio; o assassinato de Raimundo Jacó inspirou os poetas como os alagoanos Vavá Machado e Macolino:

Vaqueiro do meu Sertão, não despreza o seu gibão, nosso destino é marcado, pela providência divina, assim se achou nas colinas, Raimundo Jacó assassinado.

O COMÉRCIO

A vaquejada tornou-se esporte caro; um cavalo chega a custar o equivalente a cinco Celtas zero quilômetro e a produção envolve um verdadeiro exército de operários – são cerca de 100 empregos diretos e outros 300 indiretos.

No Parque Arthur Filho, na Chã do Pilar, onde foi realizado o 5º Circuito de Vaquejada Mastruz com Leite, o engenheiro Nildo Oliveira chefiou uma equipe de 40 operários encarregados apenas da capinagem e da marcação da pista.

“A geração de empregos é importante, principalmente nessa época de final de ano, quando todos procuraram ganhar um dinheirinho”, festeja o engenheiro, responsável pelo projeto do Parque Arthur Filho.

O negócio é tão promissor que, para 2006, já está definida a programação com quatro eventos – dois no primeiro semestre, dois no segundo. O comércio no entorno da pista de vaquejada é animador; são roupas, calçados, artesanatos e, principalmente, CDs dos astros que tanto pode ser uma banda – “Saia Rodada, Mastruz com Leite, Limão com Mel”; ou duplas como os irmãos “Sirano e Sirino”, autores dos versos que definem bem a atividade:

Vaquejada, meu amor, não é brinquedo; o cabra tem que ter dinheiro, dois cavalos arreados, vaqueiro bom preparado, pista e boi para treinar; essa vida de vaqueiro, pra você eu vou contar.

Quando amanhece o dia, o vaqueiro vai pra baia, no cavalo passa a escova, dá banho e agasalha; bota a sela vai pra pista, todo dia ele trabalha.

Quando chega a quinta-feira, o vaqueiro diz patrão: dinheiro pra abastecer, na estrada o caminhão, nós vamos pra vaquejada, quero o cheque da inscrição.

O patrão diz para o vaqueiro: cuidado com a bebedeira, o vaqueiro embriagado, na pista só faz besteira, puxa o boi fora da faixa, bota a culpa no esteira.

Veja Mais

Deixe um comentário