Especialistas dizem que palmadas não educam crianças

Cena clássica do repertório infantil: o chilique espetacular, daqueles de juntar gente em volta no supermercado e deixar os pais desarmados. Se não tomam uma atitude, passam, com o perdão da palavra, por bananas. Se dão umas palmadas no bumbum do pequeno, as pessoas olham feio. Nem uma coisa, nem outra. Segundo os educadores, em uma situação dessas, o ideal é retirar a criança do local, pois, como bem lembram, não existe show sem platéia e a birra perde a graça.

Crítica ferrenha de qualquer tipo de punição física, a psicóloga Maria Amélia Azevedo faz questão de frisar que não é contra a necessidade de disciplina na educação infantil, mas, sim, repudia o uso da violência como estratégia de educar as novas gerações. "É uma confissão da falência da autoridade do adulto e de uma adesão desesperada ao autoritarismo. É uma manifestação de fraqueza, e não de força, pois mostra o despreparo dos pais, o que coloca os filhos em risco."

A psicopedagoga Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, coleciona casos em seu consultório, como o de uma mãe que foi com a filha de 4 anos e meio ao shopping e a menina fez uma cena daquelas. Como o escândalo era grande, a mãe a colocou debaixo do braço para ir embora. A filha começou a gritar e a pedir socorro, dizendo que estava sendo seqüestrada. Entraram no carro e, quando a garota se acalmou, a mãe conversou sobre o episódio e lhe disse como havia ficado decepcionada com a atitude dela.

O caminho é por aí, aconselha a educadora. Conversar claramente e, de acordo com a idade da criança, olhar nos olhos e usar um tom de voz firme é a melhor solução. "Os adultos não devem entrar no nível da briga. Tapa não cultiva respeito nem admiração."

BIRRA

Em um de seus livros, "O Amor Tem Mil Caras" (Ed. Olho d’Água), a terapeuta de família Lidia Rosenberg Aratangy dedica um capítulo ao assunto. Segundo ela, a criança que apanha aprende a ser: agressiva (ao apanhar dos pais, ela percebe que bater no outro é uma forma válida de resolver uma encrenca); cínica (pela repetição das palmadas, a criança desenvolve a capacidade de apanhar sem se sentir mortalmente humilhada); mentirosa (o único ensinamento direto de um tapa é que certos comportamentos acabam por provocar uma dor física; portanto, a criança aprende a mentir para evitar o confronto); e covarde (fugir da dor torna-se um dos objetivos mais importantes da vida, em detrimento de qualquer outro valor).

"Se as palmadas são recorrentes, esses pais estarão ensinando à criança que, na falta de um argumento melhor, a diferença de força física é um recurso legítimo para resolver uma encrenca. O problema é que as crianças crescem e os pais podem apelar para acessórios como chinelo, tamanco, cinta e assim sucessivamente."

Segundo Lidia, deve-se ignorar totalmente a birra. "O comportamento birrento é um sucesso de público. Chilique sem platéia murcha num instante." Nessas horas, duas dicas: sair de perto e, na hora do comportamento adequado e das desculpas, muita atenção e carinho.

Sobre castigos, a terapeuta observa que estes não podem ser simplesmente uma conseqüência de os pais perderem a paciência. Tampouco uma vingança ou uma penitência.

"Tem de ser parte integrante do processo educativo. Deve-se, de preferência, oferecer à criança a possibilidade de reparar o mal feito, isto é, consertar o que foi deliberadamente quebrado, fazer a lição com cuidado, caso tenha tirado notas baixas. Educar é um processo muito interessante e mobilizador, mas não é tarefa para preguiçosos nem para desatentos."

Fonte: Ig

Veja Mais

Deixe um comentário