O mundo se prepara para receber 2006 ainda sob o impacto de um ano atravessado por atentados terroristas e catástrofes naturais que monopolizaram as manchetes da imprensa internacional ao longo deste ano.
Na Austrália, um dos primeiros países a comemorar a chegada de 2006, centenas de milhares desfilaram pelas ruas da capital Sidney, perto da famosa casa de ópera, para admirar os tradicionais fogos de artifício que foram lançados à meia-noite local.
Pelo menos 1.700 policiais patrulharam ruas e praças da capital, cujos subúrbios foram cenário no início desse mês de atos de violência racista entre australianos e jovens imigrantes.
Em Hong Kong, as demonstrações pirotécnicas também deram o tom das comemorações, justamente no país que detém o recorde mundial em queima de fogos, segundo o Guiness.
Na capital chinesa (Pequim), campanhas e tambores soaram por 108 vezes à meia-noite, seguindo uma tradição budista que atribui ao número o poder de afastar as desgraças.
No Japão, a população lotou os templos espalhados pelo país para participar de cerimônias para receber 2006, em um público estimado de 100 milhões de visitantes. Outros escalaram o monte Fuji, símbolo nacional, para verem os primeiros raios de sol do novo ano.
Outro costume nacional também monopolizou a atenção dos japoneses, que se reuniram ao redor da TV para acompanhar o campeonato de luta profissional.
Reforço na segurança
Em paralelo à alegria das comemorações, o que prevaleceu ao redor do mundo foram as preocupações com a segurança, devido à perspectiva de novos atentados terroristas, em um mundo já rescaldado com a tragédia do metrô londrino em julho.
Essa preocupação foi reforçada com um dos atentados terroristas do ano. Na Indonésia, uma bomba explodiu em um mercado cristão localizado em Palu, na província de Sulawesi, o que provocou a morte de 8 pessoas e feriu outras 45, que faziam suas compras para as comemorações do Ano Novo. O mercado era ponto de venda de carne de porco, vedada para os muçulmanos.
A explosão ocorreu em uma região marcada por conflitos entre muçulmanos e cristãos nos últimos anos. Grupos insurgentes ligados à Al-Qaeda, responsabilizada pelos atentados de 11 de setembro nos EUA, fizeram repetidos alertas que planejavam atentados na passagem do ano.
Em Bangladesh, pelo menos 5 mil policiais faziam a revista de carros e patrulhavam as ruas da capital, que foi sacudida nas últimas semanas com atentados a bomba por extremistas islâmicos que provocaram a morte de pelo menos 26 pessoas.
O Ano Novo da Ásia também foi obscurecido tragédia do terremoto de 7,6 graus em outubro na Caxemira, que desabrigou milhões de pessoas e provocou a morte de pelo menos 87 mil pessoas. No Paquistão, o exército lutava para transportar provisões para os desabrigados pelo terremoto, já que a passagem do ano prometia chuva e neve na região.
Em Jerusalém, o governo israelense reforçou a segurança em toda a cidade, pelo temor de atentados palestinos, já que a festa de final de ano coincide com a festa judaica do Hanukkah. A polícia aumentou o nível de controle dos acessos à cidade, assim como na linha de demarcação com a Cisjordânia, bloqueada após dois atentados terroristas.
Os meios de comunicação palestinos informaram de pelo 50 alertas relativos a preparação de ataques por grupos armados palestinos.
Europa
O temor de novos atentados terroristas também era visível na Europa e nos EUA, que reforçaram suas medidas de segurança. O primeiro-ministro britânico Tony Blair mencionou neste sábado, em seu discurso de final de ano, os atentados do dia 7 de julho, que tiveram um saldo de 56 mortos e 700 feridos.
"Não enfraqueceremos nossa determinação ante os perigos que estamos confrontando tanto no interior do país, como ilustram tragicamente os atentados de 7 de julho, como no estrangeiro", disse ele.
Além do temor com possíveis novos atentados, o Ano Novo dos londrinos também será obscurecido por uma greve dos funcionários do metrô. Os funcionários iniciaram sua paralisação de 24 horas por volta do meio-dia.
Pelo menos 22 estações de um total de 275 cerraram suas portas devido a greve, entre elas a de Convent Garden, em pleno centro da capital e onde se concentram os teatros e discotecas mais badalados de Londres.
Na França, um exército de 25 mil policiais foi mobilizado neste sábado para manter a ordem no Ano Novo. A polícia francesa estava particularmente cautelosa neste ano devido às turbulentas manifestações de outubro, que abalaram o país por longas três semanas. O contingente, segundo o governo, é "um pouco maior" que o normalmente mobilizado nas passagens de ano.
Em outubro, imagens de carros queimando se tornaram comuns na França, com vários episódios de violência urbana nos bairros mais pobres da região parisiense.
Os espanhóis devem se concentrar na praça madrilena "Puera del Sol" para acompanhar as 12 badaladas do secular relógio e que marca o fim de 2005. O relógio preside a torre da Real Casa dos Correos desde 1865 e é considerado "muito preciso".
EUA e América Latina
No continente americano, os moradores de Nova York preparam uma homenagem especial para os voluntários e trabalhadores dos serviços de emergência, que enfrentaram neste ano a tragédia do furacão Karina em agosto.
Representantes dos bombeiros, da polícia, de entidades de auxílio, assim como o trompetista de jazz Wynton Marsalis (representante de Nova Orleans, a região atingida), terão a honra de anunciar a passagem do ano ao acionarem a tradicional esfera de luz do Times Square.
Na América Latina, peruanos, equatorianos e argentinos devem tomar as ruas das capitais com bonecos representando as principais figuras da classe política local.
Os peruanos, por exemplo, devem desfilar com fantoches representando o ex-presidente Alberto Fujimori, que governou o país com mão de ferro nos anos 90 e hoje se encontra detido no Chile e à beira da extradição para o Peru, onde enfrenta processo por corrupção.
Em Buenos Aires, a capital argentina, a população local deve queimar bonecos representando o atual presidente Néstor Kirchner mas também o presidente dos EUA George W. Bush.