MARTA ERA DESSAS pessoas que, vistas de longe, passam por exemplos de saúde e bem-estar. Aos 40 anos, estava com o check-up em dia, o colesterol normal e a pressão sob controle. Cuidava da alimentação e do peso, havia largado o cigarro e fazia esportes freqüentemente. Apesar disso, há cerca de dois meses foi parar no pronto-socorro.
O diagnóstico preciso deixou a família assustada. Infarto? Mas o que teria acontecido com seu coração? A explicação dos médicos foi taxativa: a razão para o surgimento do problema era o estresse.
Com uma vida cheia de atribulações, de metas impossíveis de cumprir no trabalho e de discussões infindáveis em casa, Marta se tornou um alvo preferencial para as doenças cardíacas. E não foi uma exceção. As emergências dos hospitais estão lotadas de casos parecidos com esse e é por isso que a atenção dos cientistas tem se voltado cada vez mais para o estresse.
Isso não significa que o tabagismo, o sedentarismo, a obesidade, o colesterol alto, a hipertensão e o diabetes tenham deixado de ser arquiinimigos do coração, mas já não explicam todas as mortes. Uma nova safra de estudos publicados recentemente revelou que o excesso de tensão é tão perigoso para a saúde do órgão quanto os fatores de risco clássicos.
Daí a importância de desacelerar o ritmo para ter uma vida mais longa e saudável. Para isso, vale todo tipo de terapia ou atividade que promova o relaxamento do corpo e da mente, como ioga, tai chi, reflexologia e massagem (leia mais a seguir).
As novas descobertas
Dentre as pesquisas que apontaram o estresse como fator determinante para as doenças do coração, tem destaque a que foi liderada pela McMaster University, no Canadá, que investigou a relação entre fatores psicossociais e ataques cardíacos. Com 24 mil voluntários em 52 países, o estudo revelou que a prevalência de estresse crônico é maior entre as vítimas de infarto. Em geral, essas pessoas convivem com diversos fatores estressantes (trabalho, família, trânsito, medo de violência) por longos períodos antes de infartar.
Outro trabalho, realizado por dez anos na Holanda, mostrou que as pessoas pessimistas e que se preocupam demais com pequenas coisas correm mais risco de sofrer de doenças cardiovasculares. Já uma terceira pesquisa, feita com mulheres que perderam um familiar e publicada no New England Journal of Medicine, comprovou que o estresse agudo pode provocar séria disfunção ventricular em pacientes sem doença coronariana.
Nesses casos, o coração passa a bombear menos sangue e pode sofrer graves e fatais arritmias – e sem que a pessoa perceba, uma bomba- relógio está se armando dentro dela.
Com tudo isso, está comprovado que é possível sim infartar e morrer só por causa do estresse. O problema é que poucos médicos percebem que as queixas do paciente têm a ver com isso.
Sintomas como taquicardia, músculos enrijecidos, boca seca, mãos e pés frios são sinais de que é preciso pisar no freio. O cardiologista Antonio Sergio Tebexreni, diretor clínico do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Universidade Federal de São Paulo, explica que, embora seja necessário à vida, pois nos faz ficar alertas e lutar contra os problemas, o estresse eleva a freqüência cardíaca e arterial e aumenta o consumo de oxigênio pelo músculo cardíaco.
Quando esse quadro se torna crônico, ocorre o aumento da coagulação sangüínea e, por conseqüência, o entupimento das artérias. Com isso, uma pessoa que trabalha 15 horas por dia e não apresenta nada nos exames pode ter um ataque fatal alguns dias depois. "Ela pode ter uma crise de hipertensão de repente e sofrer um vasoespasmo, ou seja, a artéria se fecha e o sangue não passa", explica Tebexreni. "Aí ocorre a arritmia, o coração dispara sem coordenação."
O cardiologista afirma que uma pessoa sedentária que tem uma obstrução de 90%, em uma condição de estresse ou de esforço vai sentir dor, indicando que as artérias já estão muito obstruídas. Já uma pessoa que se cuida, faz exercícios e possui uma obstrução de 50%, pode não sentir dor alguma, ser assintomático e ter um ataque fatal. Assim, o check-up e o teste ergométrico muitas vezes não conseguem pegar esses casos, mas em vez de esperar algo ruim acontecer, que tal se prevenir? Conheça quatro técnicas que podem ajudar você a relaxar e a viver melhor: