Definida pelos especialistas como "uma doença do mundo moderno", a esteato-hepatite, ou doença gordurosa do fígado não-alcoólica, é hoje uma das principais preocupações dos endocrinologistas e hepatologistas.
O motivo é simples: sem perceber, pessoas obesas que não têm histórico de abuso de álcool estão desenvolvendo a chamada doença gordurosa do fígado.
Sem tratamento e controle, a enfermidade pode evoluir para fibrose (espécie de cicatrização) e até mesmo cirrose (inflamação crônica) do fígado. Nesses casos, pode haver uma insuficiência hepática e o paciente precisará fazer transplante para sobreviver.
De acordo com o hepatologista Mário Guimarães Pessoa, presidente da Associação Paulista para o Estudo do Fígado, a esteato-hepatite não-alcoólica é um processo inflamatório crônico do fígado, provocado pelo excesso de gordura acumulada no órgão.
"O fígado é um órgão de estoque de gordura, principalmente triglicérides. Quando há gordura em excesso, isso causa um transtorno molecular e, conseqüentemente, a destruição das células hepáticas", explicou Pessoa.
Como o fígado é um órgão que, afetado, não apresenta sintomas, a doença evolui sem que, na maioria dos casos, a pessoa perceba. Geralmente, as pessoas só descobrem o problema durante a realização de exames clínicos de rotina que apontam alterações nas enzimas do fígado. "Quando as enzimas aumentam, significa que o fígado está com um processo inflamatório", diz Pessoa.
O problema ganhou uma proporção tão grande que a Sociedade Brasileira de Hepatologia designou um grupo para estudar os aspectos clínicos e epidemiológicos da doença em todo o Brasil.
O grupo será coordenado pela hepatologista Helma Cotrim, professora da Universidade Federal da Bahia. "Essa é uma doença de caráter benigno, se evitarmos a sua evolução. Mas, se não for diagnosticada, pode provocar cirrose. Além disso, essa é uma das doenças de fígado mais freqüentes do mundo ocidental por causa do aumento do número de pessoas obesas e diabéticas."
A endocrinologista Marisa Helena César Coral, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, destaca que essa é mais uma complicação séria da obesidade. "A nossa maior preocupação é com a prevenção. É necessário mudar o estilo de vida."
Não há tratamento específico para a doença. A única alternativa é perder peso e manter uma dieta associada à prática de exercícios físicos, além do controle rígido sobre os níveis de colesterol, triglicérides e insulina no sangue.