A primeira eleição presidencial no Haiti desde 2000, que ocorrerá nesta terça-feira, será caracterizada pela modernidade de um centro eletrônico de contagem dos votos e pelo arcaísmo do transporte das urnas no lombo de mulas.
"Para todo o mundo: levantem cedo e marchem!", repete incessantemente o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) há três dias, nas rádios haitianas, convocando a população para votar nesta terça-feira às 6h locais (9h no horário de Brasília). "Coloque roupa e sapatos confortáveis", ressaltou nesta segunda-feira, na Rádio Metrópole, Josepha Gauthier, membro do CEP.
Cerca de 3,5 milhões de haitianos terão dez horas para votar e deverão percorrer, em média, sob sol forte, cinco quilômetros para chegar à seção de votação. Alguns terão de caminhar 16 km, precisou o instituto de observação eleitoral Ifes, que prevê longas filas de espera, ânimos exaltados e tensões.
Devido à falta de helicópteros da ONU (Organização das Nações Unidas) em número suficiente e depois da rejeição dos Estados Unidos (a duas horas de avião do Haiti) de fornecê-los, as urnas e as cédulas de votação terão de ser colocadas sobre o lombo das mulas nas regiões mais afastadas.
Para esta primeira eleição da era pós-Aristide, a disciplina dos eleitores deverá ser de ferro. "Os meninos devem usar a camisa dentro das calças e as meninas devem se vestir corretamente. Nenhuma arma ou retrato de candidato será tolerado", sublinhou Josepha Gauthier.
Quatrocentos eleitores são esperados em cada uma das 9.211 seções de votação do país. Eles apresentarão uma carteira de identidade moderna, uma imposição dos Estados Unidos, com foto e impressão digital.