Lideranças políticas do Iraque se reuniram neste sábado para discutir formas de interromper a atual crise de violência que atinge o país.
O governo iraquiano impôs toque de recolher a várias regiões, inclusive à capital Bagdá, mas a ordem não conseguiu parar os ataques. Neste sábado, o Iraque anunciou que pretende colocar tanques nas ruas e usar armamento pesado para impedir que mais sangue seja derramado e evitar uma guerra civil.
Desde a última quarta-feira (22), muçulmanos xiitas e sunitas se enfrentam nas ruas do Iraque, em atos de vingança após a destruição de um santuário xiita em Samarra (125 km ao norte de Bagdá). Segundo o governo iraquiano, 140 pessoas morreram nos confrontos. Lideranças sunitas, porém, elevam esse número a 200.
O santuário Al Askari é um dos quatro maiores e mais importantes para os xiitas iraquianos, e tem significado especial porque dois dos 12 imãs reverenciados como figuras predominantes para os xiitas estão enterrados no local: Ali al Hadi, que morreu em 868 d.C., e seu filho e 11º imã, Hassan al Askari.
Reunião
As discussões deste sábado contaram com a presença do primeiro-ministro Ibrahim al Jaafari, do presidente Jalal Talabani (curdo), de lideranças sunitas e de grupos não-religiosos. Políticos sunitas, que suspenderam as conversas para a formação de um governo de coalizão no Iraque, também participaram do encontro, assim como o embaixador do Iraque nos EUA, Zalmay Khalilzad.
Al Jaafari prometeu reconstruir o santuário xiita de Al Askari, em Samarra, assim como todas as mesquitas sunitas danificadas desde o início dos confrontos.
Neste sábado, o presidente dos EUA, George W. Bush, conversou por telefone com vários líderes iraquianos, pedindo a eles que trabalhem em conjunto para pôr fim à violência e evitar uma guerra civil.
Bush também demonstrou seu apoio à formação de um governo de unidade, de acordo com informações de Frederick Jones, porta-voz do conselho de segurança da Casa Branca.
"Nós encorajamos a continuidade do trabalho em conjunto para demover as ações de violência, que visam semear discórdia no Iraque", disse Jones.
Ataques
Neste sábado, a polícia encontrou 12 corpos de uma mesma família mortos a tiros em Bagdá. Segundo informações de vizinhos, dos 12 mortos, nove eram xiitas e três sunitas [é freqüente o casamento entre muçulmanos xiitas e sunitas em regiões habitadas por membros das duas facções religiosas]. Ainda em Bagdá, outros 14 corpos de agentes nas imediações de uma mesquita sunita. Ao que tudo indica, as vítimas morreram durante
confronto contra um grupo de xiitas.
O crime contra a família ocorreu na cidade de Baquba, 60 quilômetros ao nordeste de Bagdá, mesmo local onde nesta quinta-feira outras 16 pessoas morreram [entre elas oito soldados iraquianos] e 20 ficaram feridas na explosão de uma bomba.
Em Karbala, a explosão de um carro-bomba causou a morte de oito pessoas. Já em Bagdá, várias pessoas morreram quando participavam do funeral da jornalista Atuar Bahjat, da Al Arabyia, que morreu na última quinta-feira durante conflitos entre xiitas e sunitas. O cortejo de homenagem à jornalista virou um verdadeiro campo de batalha. Primeiro, homens armados atacaram a tiros o grupo que acompanhava o funeral. Após o enterro, um carro-bomba foi detonado no local. Entre as vítimas haveria muitos membros das forças de segurança iraquiana.
Também houve ataque contra a casa de Harith al Dari, líder da Associação dos Clérigos sunitas, que deixou feridos.