Mal o Palácio Floriano Peixoto virou o museu político de Alagoas, já escreveu seu primeiro capítulo: a despedida do Governo Lessa, que durou sete anos e alguns meses. Agora, o mentor do projeto socialista iniciado em 1998, Ronaldo Lessa (PDT), vai tentar alçar vôo para o Senado Federal, ou para a Presidência da República. “Tudo depende do PDT. Sou capaz de largar o meu sonho de ser senador, pela fidelidade partidária. Fiz isto em 1986 e foi o que impulsionou minha trajetória política até aqui”.
As primeiras palavras de despedida de Lessa foram lúdicas: “Já sinto um pouco de nostalgia, quando vejo que a figura central da festa hoje é o Luis Abílio, atual governador de Alagoas”, brincou o ex-governador. Logo em seguida, fez questão de afirmar: “saio de consciência tranqüila. Fiz o que podia ser feito de melhor. Não realizei tudo, mas me vi realizando obras que achei muitas vezes impossível, como por exemplo, a adutora no sertão de Alagoas”.
Para Lessa, seu governo foi o melhor de todos os tempos. Não por conta de seu nome, mas “pelo trabalho em equipe”. “Fui criticado muitas vezes, chamado de louco por ter coragem de enfrentar as elites deste Estado e mostrar que Alagoas é para todos. Criticaram as muitas secretarias que criei. É claro. Que preocupação os ricos possuem com as minorias, com os Direitos Humanos, com a mulher e outros demais excluídos. O povo merece atenção. Chega de discriminação e da ilusão de que o governo era feito para maioria. É preciso resgatar a cidadania e prestar atenção no povo”, colocou o ex-governador.
Segundo Ronaldo Lessa, um bom exemplo desta “visão voltada para o menos favorecidos” foi o “avanço do Banco do Cidadão, que abriu crédito para muitos pobres, que começaram a aquecer a economia alagoana. Isto serviu de exemplo para muita gente no Brasil todo. Alagoas virou referencial, tanto que a Unicef chamou este governo de ‘Luta pela Vida’. O meu governo foi a vitória da vida, da saúde e da educação. Nenhum dos 31 governadores que por aqui passaram fizeram mais pela educação do que nós. Pode somar até o que todos eles fizeram”, destacou.
O ex-governador Ronaldo Lessa destacou que agora “o companheiro de luta” Luís Abílio (PDT) “vai terminar o que não consegui fazer. Há muitos planos ainda, mas Alagoas está em boas mãos e vamos lutar para que sempre esteja”. Lessa fez questão de destacar que em seu governo houve erros, que devem ser refletidos pelos governantes futuros. “Mas só não erra aqueles que nada fazem. Podemos, mesmo com o erro, destacar que o PIB do nosso Estado dobrou, mesmo diante das críticas que não vieram indústrias para cá. Vieram porque não eram bem vindas. Construímos o nosso Estado e reaquecemos a economia dando prioridade a quem realmente precisa. Até as empresas dos usineiros investem fora daqui e não é segredo. Crescemos porque soubemos investir certo”.
Futuro
“Estou firme na luta por Alagoas, independente do meu destino político. Eu quero muito ser senador pela minha terra, mas se for candidato a presidente vou com o pensamento de ajudar o povo nordestino, trazer investimento e dinheiro para quem precisa, assim como fizemos aqui em Alagoas”, declarou Lessa à imprensa minutos antes de empossar Luis Abílio. A decisão sobre o futuro político de Lessa deve sair no final de abril, depois de reuniões no PDT nacional.
Lessa resumiu o seu governo em três pilares: redução dos índices de miserabilidade e desigualdade, abertura do poder para as minorias e investimentos em Educação, “que é o que realmente cria inserção cultural, liberdade e capacidade de escolhas. Isto eu escuto desde menino, mas precisávamos sair do discurso e trazer isto para a prática. Fui o primeiro governador a investir os 25% garantidos pela Constituição Federal na educação”.
As obras
O ex-governador destacou ainda as obras que considerou importantes em seu governo: O Centro de Convenções, a nova Ceasa, o resgate da Adutora do Sertão, Aeroporto Zumbi dos Palmares, Palácio República dos Palmares, reconstrução de várias escolas em todo o Estado e “a maior obra de todas, a valorização e o resgate da cidadania dos alagoanos”, conforme afirmou Lessa.
Os protestos e as desavenças
“Todo governo tem suas lutas e suas dificuldades. Acho que encontramos o caminho do diálogo. Os movimentos sociais têm que reclamar mesmo. O espaço é este, mas infelizmente não pude dar a isonomia, porque sempre apoiei os atos deste governo na responsabilidade. No entanto é por meio desta luta que eles alcançarão o que é de direito e espero que num futuro breve tenham suas conquistas. O que pudemos fazer, fizemos, assim como investimos o máximo possível, no povo pobre deste Estado”, destacou Lessa, já que no mesmo momento em que passava o cargo, havia um protesto de sindicalistas da educação na Praça dos Martírios.
Os agradecimentos
Para finalizar o discurso – Lessa, quase não contendo as lágrimas – agradeceu a todos os setores da sociedade que – segundo ele – o ajudou a construir o Governo. “Agradeço aos jornalistas que souberam criticar e elogiar nas horas certas, aos empresários de bem deste Estado, aos diversos segmentos, como foi a Federação das Indústrias e CDL, e ao povo desse Estado que em mim confiou. Saio com a certeza que doei o melhor de mim, finalizou Ronaldo Lessa.