Tudo começou com um boato no começo do ano. Os Mutantes voltariam para um show em 22 de maio dentro de um evento dedicado à Tropicália (onde tocam também Gal Costa, Tom Zé, Gilberto Gil e Caetano Veloso) no Barbican, importante galeria e casa de espetáculos com capacidade para 2.000 pessoas em Londres. Poucos acreditaram, mas mais informações foram se confirmando: os irmãos Sérgio e Arnaldo Dias Baptista haviam realmente se reencontrado depois de anos sem tocar juntos. O baterista original Dinho também estava a bordo. O baixista Liminha e a cantora Rita Lee estavam fora.
Novos shows foram marcados, dessa vez nos Estados Unidos (21 de julho em Nova York, 23 de julho em Los Angeles), e novos boatos correram, em especial sobre quem seria a cantora do grupo. Fernanda Takai e Rebeca da Matta foram cotadas, mas desmentidas. Até que, na quarta passada, a própria Rita Lee entregou o furo à imprensa: Zélia Duncan ocuparia seu antigo posto como cantora nos Mutantes versão 2006. Por telefone, Sérgio Dias conversou com a Folha sobre a volta. "É uma honra poder dar a primeira entrevista para um jornalista brasileiro como o Sérgio Dias dos Mutantes", já declarou ele, de saída.
Animado com a volta, Sérgio contou que conversou com Rita e ela foi "muito querida", apesar de não estar interessada em participar dos Mutantes. Procurada pela reportagem, Rita não respondeu até o fechamento desta edição.
Sérgio comentou ainda que seu irmão Arnaldo "é um gênio" e revelou o repertório que está ensaiando com a banda e a atual formação do grupo.
Além dele próprio na guitarra, Arnaldo no teclado e Dinho na bateria, a banda é formada por Vinicius Junqueira no baixo (da própria banda solo de Sérgio), Henrique Peters (da banda curitibana Black Maria) no outro teclado, o multiinstrumentista de 21 anos Vitor Alexandre, tocando flauta, teclado, violão, guitarra e contrabaixo com arco, a percussionista Simone Soul e os backing vocals Fábio Reco e Esméria Bulgari. Além da participação especial de Zélia Duncan, que está confirmada apenas para o primeiro show, em Londres.
"A gente se conhece há pouco tempo, mas foi como se fossem 50 encarnações juntas", contou Sérgio. "Quando sugeri a Zélia para cantar com a gente, todo mundo comentou que a voz dela é muito diferente, é grave, mas eu disse que botava fé. No fim, quando ela veio tocar, foi maravilhoso."
Zélia, de seu lado, comentou a emoção, mas deixou claro que não quer comparações com Rita Lee: "Não sou uma substituta, isso seria ridículo e perigoso para mim. Me sinto uma representante". Contou também que, logo depois do primeiro ensaio, ligou para Rita. "Ela tinha de ser a primeira a saber e é de quem realmente me importa a opinião. Eu lhe disse o quanto aquilo foi forte para mim, justamente por sentir tanto a presença dela, e Rita abençoou geral e só comentários positivos foram feitos. Os Mutantes me chamaram, Rita Lee abençoou. Quem não aceitar, que atire a primeira pedra! Da qual eu vou desviar, claro."
Expectativas
Naturalmente, as expectativas sobre a volta dividem opiniões. De um lado, os animados com a oportunidade de ver a importante banda tocando de novo. De outro, os receosos de um mico histórico e uma queimação de filme mundial do mito dos Mutantes.
"Essa volta é uma felicidade para o mundo, o mundo todo vai ficar mais alegre. É uma pena que a Rita não vá participar, mas é uma alegria que a Zélia vá", comentou Tom Zé. Manoel Barenbein, produtor do primeiro disco do grupo, é um pouco mais reticente. "Sem a Rita, não é Mutantes, como não seria sem Arnaldo ou sem Sérgio. Mutantes são os três, a falta de qualquer um deles não diz o que eram os Mutantes", opina.
"Se eu gostaria que a Rita estivesse? Lógico que eu gostaria. Que o Liminha estivesse? Com certeza. Mas, se eles não podem agora, o que eu vou fazer? Não vou parar só porque eles não podem", diz Sérgio, encerrando o assunto.
Sobre planos de tocar no Brasil, Sérgio diz apenas que não pensam nisso: "A gente está tocando e vai ver o que a vida traz". Mas, quando fala sobre compor novas músicas, gravar discos e, quem sabe, até contar com a participação de Rita em um show futuro, é otimista. "Por que não?", pergunta. Se a banda conversou sobre o que vai acontecer depois da turnê pelo exterior? "Acho que é tão claro e óbvio para mim que a gente vai continuar tocando que não precisa ter conversa, né?"