Camelôs tentam se reorganizar depois de tragédia

Alagoas 24 HorasDelegado do caso, Ivanildo Inácio de Brito

Delegado do caso, Ivanildo Inácio de Brito

No cenário do homicídio de José Sandro Gomes há apenas duas barracas fechadas, no meio das quase 250 que tentam retomar a rotina do comércio depois da tragédia que deixou os camelôs “temerosos e silenciosos”, como define o atual presidente da Associação dos Camelôs, Rosivaldo de Moura, 37.

De acordo com ele, depois que Sandro Gomes foi assassinado – na última quinta-feira – o movimento se dispersou, mas tenta se recompor, além disto, “o movimento diminuiu, acarretando numa grande perda financeira e muita gente tem medo de vir trabalhar, por não saber exatamente o porquê da morte, se estaria ligada à causa, ou seria algo pessoal”.

“Ele era um sujeito calmo, não aparentava ter inimigos. Sempre andava comigo, quando discutíamos a questão dos camelôs no Centro, mas nunca soube de envolvimento dele com nenhuma bronca”, explicou Moura. Moura representa os camelôs que ficaram dentro do espaço destinado ao Shopping Popular e Sandro Gomes representava os que tomaram a parte externa, próximo à Praça Palmares.

“O movimento se rompeu porque o Sandro Gomes e demais camelôs criaram o Movimento Pró-Camelô (MPC), que neste momento se encontra sem liderança (membros do MPC confirmaram a informação de Moura ao Alagoas 24 Horas) e nós temos a Associação dos Camelôs, a qual estou presidindo. Nós estamos auxiliando o MPC neste momento, mas a tendência é que unifiquemos novamente”, coloca.

Segurança

A decisão só será tomada depois de uma reunião com todos os camelôs, que deve acontecer ainda neste mês. No entanto, enquanto não se resolve a questão, Moura disse que há uma preocupação urgente com a segurança do local. “Ela é feita por meio de vigilantes pagos por nós. Há taxas cobradas que servem para garantir a limpeza e a segurança, pois são apenas seis policiais militares para tomar conta de todo o Centro”.

Moura disse que teve uma reunião recente com o Comando de Policiamento da Capital (CPC) e com o secretário municipal de Indústria Comércio e Agricultura, Carlos Ronalsa. “Solicitamos o apoio da Polícia Militar, que se mostrou atenta à questão, mas esbarra no problema da falta de efetivo. Porém, ficou acertado que eles colocariam uma dupla de policiais durante o dia e à noite as viaturas – durante as rondas que já acontecem – passaria no local”.

O silêncio

“Eu particularmente não creio em novos crimes aqui. Mas é claro que temos que prevenir até por conta do medo de alguns". O Alagoas 24 Horas pôde constatar este temor nos camelôs, que evitam dar declarações à imprensa e são evasivos. A única citação unânime dada por todos eles é: “Queremos Justiça!”. O próprio delegado do caso, Ivanildo Inácio de Brito falou sobre a dificuldade de colher provas testemunhais.

“Não há como obrigá-los. Eu tenho pedido ajuda para que as pessoas colaborem e o caso seja solucionado, mas muitas vezes a imprensa consegue informações antes de mim por conta desta dificuldade que as pessoas possuem de prestar declarações à Polícia Civil. Mas estamos trabalhando em três linhas de investigação”, explicou Brito.

No entanto, um grande avanço – conforme Brito – é a divulgação do retrato falado a partir dos depoimentos de José Euclides dos Santos, 42, que foi ferido durante o atentado e é testemunha ocular. O depoimento de Euclides dos Santos descreve fisicamente o autor material do crime e a partir disto foi feito o desenho do acusado, mas ainda não há uma identificação precisa de quem seja.

O crime e as conseqüências

A morte de Sandro Gomes teve conseqüências diretas no Movimento Pró-Camelô e na Associação de Camelôs. “Além da queda nas vendas, por conta da propaganda negativa, algumas pessoas têm evitado circular por aqui com receio de novos crimes e negociações que estavam sendo fechadas tiveram que ser interrompidas, entre elas os projetos de divulgação do espaço do Shopping Popular e dos demais trabalhadores que ficaram do lado de fora”.

“Até o crime ser elucidado estaremos prejudicados, até por conta do abalo emocional”, colocou Moura. Amanhã – conforme Moura – será realizado um ato ecumênico no Shopping Popular e logo em seguida uma passeata até o Palácio República dos Palmares para cobrar das autoridades. “Não queremos que a morte do Sandro Gomes fique impune”, finalizou Moura.

Caso se concretize a unificação, Moura vai liderar as duas frentes de camelôs depois de 30 anos de profissão. “Comecei a trabalhar na rua aos sete anos de idade, ao lado de meu pai que já era camelô”.

Outra conseqüência do crime, segundo camelôs, é o fato de Euclides dos Santos não estar indo trabalhar desde o acontecido. “Ele está com medo. O nome dele está sendo divulgado na imprensa. Ele teme até que o bandido já tenha descoberto seu endereço. Desde o dia do crime ele não está vindo trabalhar. Não sei como ele está se virando. Este é outro motivo pelo qual alguns estão evitando falar com jornalistas. Não queremos nos expor”, falou um dos camelôs.

O delegado Ivanildo Brito disse que Euclides Santos não está dentro de nenhum programa especial de proteção à testemunha, mas policiais civis “estão tendo cuidado excessivo com ele”. “Praticamente ele só sai de casa quando eu ligo”, colocou o delegado. Ontem e hoje, a mulher de Sandro Gomes, Hilda Herculano também não foi trabalhar. Os camelôs não sabiam informar o porquê.

Linhas de investigação

O delegado Ivanildo Brito voltou a confirmar três linhas de investigação. “Ainda estamos ouvindo o pessoal desta primeira linha, na qual está sendo investigado o Laércio Lira (ex-presidente da Associação dos Camelôs). Não o coloco como suspeito. Esta palavra é muito forte, mas todas as pessoas que tiveram discussões com o Sandro Gomes serão investigadas.

Há também outros nomes, que não vou revelar agora para não atrapalhar as investigações”.

O delegado já ouviu três pessoas: Euclides dos Santos, Laércio Lira e a esposa da vítima Hilda Herculano. No depoimento da viúva ela aponta as recentes discussões em que Gomes se envolveu, mas o delegado optou por não divulgar os nomes dos envolvidos. Laércio Lira confirma o desentendimento com o camelô, mas diz que ele iniciou a briga.

Lira – em seu depoimento – coloca o tempo todo que agiu de forma apaziguadora, enquanto Sandro Gomes atacou sua moral, rompeu com a Associação dos Camelôs e fundou o Movimento Pró-Camelô, no qual liderava os não licenciados pela Prefeitura de Maceió.

A discussão entre Laércio Lira e Sandro Gomes aconteceu na Rua da Alegria. Lira diz ainda que no dia do crime estava com sua filha e um amigo numa lanchonete almoçando. “Soube da morte dele por telefone”, destaca no depoimento, colocando ainda que se sentiu surpreso e pensou que poderia ser ele no local de Gomes. Laércio diz se sentir ameaçado, mas não revela por quem.

Na outra linha de investigação será ouvido uma pessoa identificada como Antônio, que também faz parte da Associação dos Camelôs. Segundo o delegado, ele se desentendeu com Sandro Gomes no momento em que houve a ruptura do movimento. Ninguém desta linha de investigação foi ouvida. O delegado deve ouvir Antônio ainda na tarde de hoje. Quanto à terceira linha, o delegado afirma que só falará sobre ela depois que os depoimentos estiverem em andamento.

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