PIRANHAS – O comandante Aurélio ordena a partida; o co-piloto "dos Santos" manuseia as cordas e a canoa desliza suave iniciando a sua segunda viagem depois de ter sido totalmente restaurada e reintegrada à paisagem de Piranhas. Para os mais velhos é como retroagir cinqüenta anos ou mais; para os mais jovens é o encontro com o passado que eles conheciam apenas pelo que ouviam os mais velhos contarem.
No sábado, 24, Dia de São João, foi assim; levando a bordo o prefeito Inácio Loiola e comitiva, a "canoa de tolda" zarpou do ancoradouro da cidade ribeirinha e viajou até Entremontes, povoado à beira do Rio São Francisco, a seis léguas da cidade.
A viagem durou duas horas e quinze minutos e foi impossivel conter a emoção; moradores ribeirinhos correram à margem do rio para ver a embarcação e acenavam como se esperassem que a canoa retribuisse o aceno. O prefeito e o secretário municipal de Cultura de Piranhas, Cacau, recepcionaram os convidados; a viagem foi animada por um conjunto de forró pé-de-serra.
Para quem não estava acostumado com os bordejos, os primeiros momentos da viagem foram dificeis; alguns colocaram o salva-vidas. Mas, logo se acostumaram; a canoa de tolda é assim – ela se inclina para um lado e outro; segue o que o rumo do vento e da pressão da vela.
Depois de adquirir a canoa de tolda, o prefeito Inácio Loiola anunciou que pretende comprar uma locomotiva "maria-fumaça" para deixá-la em exposição na cidade. A história de Piranhas não está apenas ligada ao Rio São Francisco; durante muitos anos a ferrovia, que dom Pedro II mandou construir para ligar o baixo e o médio São Francisco, transportou a riqueza e alimentou a região não-navegável do Velho Chico.
A idéia do prefeito é prestar uma homenagem, ao mesmo tempo em que deixa à posteridade o exemplar original que representa mais que uma época – representa a história de um povo.