Ataques atribuídos à facção criminosa PCC voltaram a ser registrados entre a noite de quarta e a madrugada desta quinta-feira em São Paulo. As ações deixaram cinco pessoas feridas, entre elas um menino de dois anos. Iniciada na noite de terça, a nova onda de violência deixou ao menos seis mortos, segundo balanço da Secretaria da Segurança Pública. O número, porém, pode chegar a oito.
Desde o início dos ataques, forças de segurança, prédios públicos e particulares e ônibus foram alvos dos criminosos. De acordo com a SPTrans (empresa que gerencia o transporte coletivo na cidade de São Paulo), 43 ônibus foram queimados e outros dois acabaram atingidos por tiros, desde quarta.
Devido à violência, a cidade amanheceu sem ônibus nesta quinta. De acordo com a prefeitura, motoristas e cobradores de 13 empresas de ônibus não saíram para o trabalho nesta quinta-feira em São Paulo. Por volta das 8h, apenas três empresas circulavam –uma na zona leste e duas na zona oeste. Conforme a SPTrans, os microônibus do setor local (entre bairros) também operam normalmente.
A administração municipal decidiu suspender o rodízio de veículos durante todo o dia. Com isso, veículos com placas finais 7 e 8 podem circular normalmente no centro expandido da cidade nos horários de pico –das 7h às 10h e das 17h às 20h.
Ataques
As ações ocorridas entre a noite de quarta e a madrugada desta quinta não deixaram mortos, mas ataques incendiários contra ônibus feriram quatro mulheres e um menino de dois anos, em São Vicente (litoral) e na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo).
Com as novas ações, já passa de cem o número de ataques contra forças de segurança, ônibus e prédios públicos e particulares registrados em mais de 20 cidades do Estado de São Paulo, desde a noite da última terça.
O caso mais grave ocorreu em São Vicente, por volta de 21h de ontem. A cobradora, de 34 anos, e dois passageiros –uma fotógrafa de 24 anos e um menino de dois– sofreram queimaduras antes de saírem do ônibus em chamas.
As vítimas foram hospitalizadas. A cidade de São Vicente registrou um total de sete incêndios criminosos: cinco contra ônibus e os demais contra fachadas de supermercados.
Na Vila Madalena, três homens entraram como passageiros em um ônibus da empresa Urubupungá, que fazia a linha Vila Munhoz-Vila Madalena, por volta das 23h. Na esquina das ruas Aspicuelta e Fidalga, o trio jogou um líquido inflamável no piso do ônibus e ateou fogo.
Segundo a Polícia Civil, duas mulheres, de 39 e 27 anos, sofreram queimaduras leves. O atentado gerou pânico no local, um dos principais bairros boêmios da classe média paulistana, e levou vários bares a fecharem as portas mais cedo.
Alvos
Ao contrário do que ocorreu na primeira leva de ataques do PCC, em maio, a nova série de ataques privilegiou os alvos civis, como ônibus, bancos, postos de gasolina e ambulâncias, no lugar das forças de segurança.
Até uma ambulância foi queimada nos atentados. Atraída por uma chamada falsa, a ambulância foi até a Estrada do Pedregulho, na Vila Esperança, em Santana do Parnaíba (Grande São Paulo). Ali, o veículo foi cercado por três homens, que obrigaram o motorista a descer e atearam fogo ao veículo.
Uma granada foi atirada contra um posto de combustíveis na Avenida Adélia Chohfi, próximo ao terminal de ônibus de São Mateus, no início da madrugada. O artefato falhou e não explodiu. Policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) interditaram o posto e recolheram a granada.
Prédios públicos não foram poupados. A Câmara Municipal de Juquitiba (Grande SP) foi alvo de um atentado a bomba. Criminosos num carro e numa moto lançaram a bomba contra o prédio por volta das 23h de quarta-feira. A explosão, destruiu as vidraças e parte do teto.
Em Jundiaí (Grande SP), criminosos atiraram às 0h50 contra o 3º Distrito Policial, na avenida São João.
O 5º Distrito Policial de Piracicaba (162 km a noroeste de São Paulo) foi metralhado por volta das 22h de quarta. A delegacia estava vazia, pois fecha às 18h. Na mesma cidade, foram registrados três ataques incendiários, que atingiram uma agência do Bradesco, também em Santa Terezinha, e dois ônibus da Viação Paulicéia.
Os atentados atingiram várias agências bancárias. Em São Sebastião (litoral), uma agência do Bradesco foi incendiada por volta das 0h. Na zona leste de São Paulo, outras duas agências do Bradesco foram metralhadas, uma na avenida Carrão, Tatuapé, e outra na rua Tibúrcio de Souza, no Itaim Paulista.
Balanço
O último balanço divulgado pela Secretaria da Segurança –por volta das 22h de quarta– aponta seis pessoas mortas nos ataques: um policial militar, sua irmã (mortos na zona norte de São Paulo), três vigilantes particulares (no Guarujá) e um guarda municipal (em Cabreúva).
As mortes de um agente prisional, em Campinas, e do filho de um investigador, em São Vicente, não entraram nas estatísticas oficiais.
Conforme os últimos dados, ocorreram 11 ataques contra bancos, seis contra revendedoras de veículos, dois supermercados, uma loja, um sindicato e três casas de policias militares, entre outros.
Em algumas ataques foram usados coquetéis molotov e em outros, disparados tiros. As ações ocorreram, além de São Paulo, em municípios como Santos, Guarujá, Praia Grande, Santa Isabel, Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Osasco, Guarulhos, Mauá, Taubaté, Embu, Taboão da Serra e Pindamonhangaba.
Apesar de divulgar os números, o governo estadual não informou todos os locais onde ocorreram os ataques. O motivo seria não aumentar a sensação de insegurança, de acordo com o comandante da PM, Eliseu Eclair Teixeira.
A polícia deteve sete suspeitos de participação nas ações criminosas, entre eles dois adolescentes. Um dos presos foi Emivaldo Silva Santos, 30, o BH, que é apontado como o ‘general’ do facção na região do ABC. Ele foi capturado horas antes do início dos ataques, na rodovia Imigrantes, em uma operação conjunta das polícias Civil e Militar.
Em outra ação, quatro homens que possivelmente promoveriam um ataque também foram presos após denúncia de um agente penitenciário.
Suspeita
Um possível plano de transferência de presos para a penitenciária federal de Catanduvas (PR) teria sido o motivo da nova onda de ataques –a maior desde as ações de maio.
O secretário da Segurança do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, atribuiu a movimentação dos presos à divulgação das possíveis transferências. Reportagem publicada pela Folha nesta quarta mostra que o governo estadual pretendia fazer as transferências nos próximos dias.
O secretário da Segurança negou a existência da lista e disse que, por meio de escutas, foi constatado que os presos ficaram apreensivos com a possível transferência. Já o secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, admitiu que, em conversa com o governo federal, pediu 40 vagas na unidade, mas que ainda não obteve resposta.