Justiça condena Suzane e irmãos Cravinhos pelo assassinato de casal Richthofen

Depois de mais de 56 horas e meia de julgamento, o 1º Tribunal do Júri de São Paulo condenou à prisão, por volta da 1h50 deste sábado (22/7), os réus Suzane von Richthofen e Daniel e Cristian Cravinhos, pelo assassinato dos pais de Suzane, Manfred e Marísia von Richthofen. O júri popular considerou que Suzane não foi coagida a matar os pais e reconheceu todas as qualificadoras pedidas pela promotoria, além da fraude processual para os três réus.

Daniel foi condenado a 39 anos e seis meses de reclusão. São 19 anos e seis meses pela morte de Manfred e mais 19 anos e seis meses pela morte de Marísia. Além disso, foi condenado a seis meses de detenção e ao pagamento de dez dias-multa por fraude processual (alteração da cena do crime).

Cristian foi condenado a 38 anos e seis meses de reclusão, sendo 18 anos e seis meses por cada assassinato. Além disso, ele foi condenado a um ano de detenção e ao pagamento de dez dias-multa por furto e a mais seis meses de detenção e ao pagamento de outros dez dias-multa por fraude processual.

Suzane foi condenada a 39 anos e seis meses de reclusão, sendo 19 anos e 6 meses para cada morte. Ela também foi condenada por fraude processual a seis meses de detenção e ao pagamento de dez dias-multa.

A sentença determina que os réus não poderão recorrer em liberdade e deverão cumprir as penas integralmente em regime fechado. Todos os mandados de prisão serão expedidos ainda neste sábado.

Nos quesitos (questionário) elaborados pelo juiz com perguntas sobre os principais pontos do processo e do julgamento, os jurados responderam “sim” ou “não” para cada questão.

Durante a leitura da sentença, os réus ficaram em pé, diante do juiz Alberto Anderson Filho, e cerca de 20 policiais entraram no plenário do Tribunal do Júri. Suzane passa a noite no 89º Distrito Policial (Portal do Morumbi) e deve seguir neste sábado para o Centro de Ressocialização de Rio Claro, onde estava até o início do julgamento. Os irmãos Cravinhos vão para o Centro de Detenção Provisória em Pinheiros e depois serão encaminhados para o presídio de Tremembé (interior de São Paulo).

O júri popular foi composto por três mulheres e quatro homens: Luis Soares de Mattos, Maria Regina Alexandre, Dimas Mariano de Souza, Dionísio José da Cruz, Cleide Claris, Iolanda de Oliveira Toledo e José Willians Machado de Souza.

Julgamento

Iniciado na segunda-feira (17/7), o julgamento do caso foi marcado por idas e vindas nos depoimentos de Cristian Cravinhos e pela ameaça constante da defesa de Suzane de pedir a anulação do julgamento.

No primeiro dia de júri, Daniel e Cristian contaram em seus interrogatórios que apenas Daniel havia assassinado o casal Richthofen. No dia seguinte, terça-feira (18/7), durante os depoimentos das testemunhas de acusação, a versão foi colocada em xeque. A perita Jane Marisa Millioni Pacheco Belucci, chefe da equipe de peritos criminais envolvida na investigação do caso, disse que a cena do crime e a situação dos corpos evidenciavam que o assassinato havia sido cometido por duas pessoas.

O terceiro dia de julgamento, quarta-feira (19/7), terminou com uma reviravolta nos rumos do processo. A promotoria apresentou “uma bomba”: Cristian se decidira a mudar seu depoimento. Em uma fala que provocou comoção em todo o plenário, Cristian admitiu ter desferido os golpes que mataram Marísia, mudando sua versão para o crime.

Depois da admissão de culpa de Cristian, o quinto dia de julgamento foi destinado à leitura dos autos do processo. Imagens chocantes do crime, feitas pela perícia, foram mostradas e revelaram que Marísia havia agonizado antes de morrer. A defesa de Suzane —desfalcada durante quase todo o dia por seu principal advogado, Mauro Otávio Nacif, que descolou a retina do olho esquerdo— adotou a estratégia de cansar os jurados com a leitura de partes do processo. A acusação e a defesa dos Cravinhos abriram mão da leitura.

No último dia de julgamento, sexta-feira (21/7), acusação e defesas debateram no plenário do tribunal, apresentando seus argumentos e teses para o crime. A acusação sustentou que os réus eram “sócios” no assassinato cometido por dinheiro. A defesa dos Cravinhos pediu que Cristian tivesse uma pena menor e não aceitava as qualificadoras de motivo torpe (fútil) e meio cruel (uso de barras de ferro para cometer o crime).

Nacif, que passou a semana inteira do julgamento prometendo “uma bomba” para o final de sua argumentação, pediu a absolvição de sua cliente, sem trazer nenhuma novidade para as teses que sustentou. A defesa de Suzane alegou que ela sofreu coação moral irresistível (por amor a Daniel, foi levada a participar do assassinato) e inexigibilidade de conduta diversa (por causa da coação, não poderia agir de outra forma).

Crime

Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados no dia 31 de outubro de 2002, quando dormiam em sua casa, no bairro do Brooklin (zona Sul de São Paulo). Suzane, Daniel e Cristian entraram na casa em silêncio. Os irmãos Cravinhos subiram as escadas junto com Suzane, que os avisou que os pais dormiam. Então, os irmãos desferiram golpes de barra de ferro contra Manfred e Marísia. Após matarem o casal, os dois cobriram os corpos com uma toalha molhada e sacos plásticos.

A biblioteca foi desarrumada para simular um latrocínio (assalto seguido de morte), com uma pasta marrom sendo cortada. Também foram levados, para reforçar a simulação, cerca de US$ 5.000, R$ 8.000 e jóias do casal que estavam na biblioteca. O dinheiro ficou com Cristian, que acabou usando uma parte do montante para comprar uma moto.

Ao deixarem o local do crime, Daniel e Suzane seguiram para um motel em São Paulo, enquanto Cristian seguiu para um hospital visitar um amigo. Depois de algum tempo, Daniel e Suzane foram ao encontro de Andreas von Richthofen, irmão da jovem, que havia sido deixado por Daniel em um cibercafé. Chegaram em casa, e Suzane ligou para a polícia informando do crime.

O policial militar Alexandre Paulino Boto, que atendeu ao chamado, chegou na casa e disse, no decorrer das investigações do crime, que havia estranhado o comportamento de Suzane quando ele respondeu que os pais da jovem estavam bem. “Como?”, perguntou Suzane espantada, segundo o relato de Boto durante o julgamento.

No decorrer das investigações, a delegada responsável pelo inquérito Cíntia Tucunduva, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), começou a suspeitar do comportamento de Suzane e Daniel diante da “tragédia” —eles protagonizavam cenas de amor, de acordo com a delegada. No dia 8 de novembro de 2002, os Cravinhos e Suzane confessaram, em interrogatório à delegada, a participação no assassinato dos casal Richthofen.

Fonte: Rosanne D'Agostino e João Novaes/ Uol

Veja Mais

Deixe um comentário