Implantada em mais de 20 universidades federais de todo o Brasil, a Política das Cotas Étnico-Raciais ainda é um ponto polêmico e que, às vezes, aumenta o racismo e a discriminação sofrida pelos negros.
Foi assim com a estudante Joyce Emanuelly Lopes, 18, que passou no primeiro vestibular feito com o sistema de cotas, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). “No começo os outros diziam que eu tomei a vaga de alguém. Agora melhorou e nós, que passamos com as cotas, tiramos notas tão boas ou até melhores que os outros”, afirmou.
Atualmente, mais de 500 estudantes da Ufal passaram com o sistema de cotas, que garante 20% das vagas para os negros. O assunto ainda é polêmico porque para alguns, o sistema é injusto na maneira de tratar o problema do preconceito. “Falta garantir o ensino de qualidade para que os negros façam o vestibular e consigam as vagas sem o sistema”, disse a estudante Ítala Kaline, 18.
Durante toda esta quinta-feira, o Núcleo Temático de Identidade Negra na Escola promoveu uma série de debates, dentro da programação do Agosto Negro. De acordo com a coordenadora do núcleo, Arísia Barros, o sistema de cotas não é uma solução definitiva para os problemas de racismo enfrentados no país, mas consegue abrir um espaço para os negros no ambiente universitário.
“A negação social e a história oficial do racismo fazem com que as pessoas não assumam que são racistas, mas considerem o Brasil um país racista”, explicou, enfatizando também que os negros estão passando por um novo processo, que vai ajudar futuramente as próximas gerações.
É o caso da estudante Joyce Lopes, que é a primeira da família a ingressar em um curso do ensino superior. Para a estudante de Enfermagem, as vagas reservadas criaram “a oportunidade que faltava”. “Quero ser uma profissional bastante competente e sei que vou ser mais comprometida com as questões sociais”, finalizou.
Para o diretor de Programa de Ações Afirmativas, da Secretaria Especializada de Políticas e Diplomação da Igualdade Racial, Jorge Carneiro, o sistema de cotas não só atua com os jovens que estão sendo inseridos na universidade, mas também se preocupa com as crianças do ensino fundamental.
“Cerca de 11 mil jovens negros e indígenas são contemplados com o sistema, que também atua trabalhando com crianças e professores do ensino fundamental, para corrigir o problema da discriminação e garantir o acesso naturalmente à universidade”, garantiu.
Uma das formas de trabalhar a exclusão dos negros é o estudo da História da África e dos Afro-descendentes, que está regulamentado com a Lei 10.639, aprovada pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva.