A peleja do Gape com o Ibope

Sabem aquela do “Homem que calculava”, de Malba Tahan? Aquela dos 35 camelos deixados como herança para serem divididos com três filhos? É velha, mas cabe repeti-la quando a dúvida atroz entre quem tem razão, se o Gape ou o Ibope, permanece – ou será que aumentou?

Trocando camelos por bois e, assim, regionalizando o problema que o homem que calculava resolveu, tem-se:

Um pai deixou 35 bois como herança para serem divididos com os três filhos, de modo que o primogênito deveria receber a metade, o filho do meio 1 terço e o filho mais novo a nona parte. Ocorre que a metade de 35 é 17,5; um terço de 35 é 11,7… e a nona parte de 35 é 3,4…nenhuma das operações dá exata.

Mas, isto não foi problema para o homem que calculava; ao avistar um homem tangendo um boi chamou-o e pediu-lhe o boi emprestado. Disse para os herdeiros que eles iriam dividir agora 36 bois; o homem que havia emprestado o boi reagiu, mas foi convencido a aceitar com a garantia de que não iria perder nada.

Ora, a metade de 36 é 18 e o homem que calculava deu 18 bois para o herdeiro mais velho; a terça parte de 36 é 12 e o filho do meio recebeu 12 bois; a nona parte de 36 é 4 e o filho mais novo recebeu 4 bois.

Somando-se 18+12+4 = 34. Ocorre que são 36 bois, não é isso? Pois o homem que calculava resolveu o problema dos três herdeiros, devolveu o boi que tinha pedido emprestado e ficou com um boi como pagamento pelo serviço.

A matemática tem esses encantos porque encerra filosofia; a matemática não é apenas a frieza dos números. Imaginem que, se não fossem os árabes, estaríamos usando os algarismos romanos – aquela chatice que esconde o número atrás das letras.

É possível que o homem que calcula no Gape nunca se entenda com o homem que calcula no Ibope e isto não deve ser de estranhar; os indianos ensinam que se deve desconfiar cem vezes dos cálculos. É possível também que um ou outro tente esconder os números atrás das letras, mas será tentativa vã.

A nova pesquisa do Gape sustenta a vantagem do ex-presidente Collor na disputa pelo Senado, que está 6 pontos percentuais à frente do ex-governador Ronaldo Lessa. Tal vantagem é ilusória ainda que possa ser confirmada; a prudência aconselha cravar o empate.

E a solução do problema não é diferente daquela usada pelo homem que calculava; será preciso pegar um boi (eleitores) emprestado para fechar a operação. Dizer que um ou outro está eleito é insistir na divisão exata de 35 por três.

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