Dialética sururu

Se pudéssemos unir todas as idéias com suas fontes de sabedoria, e espremê-las tirando de cada movimento do pensamento humano aquela centelha de luz; e assim organizar uma engrenagem de idéias perfeitas e quase imutáveis no tempo… Mas é utópico pensar assim, como a própria utopia de Thomas Moro; se salvando apenas a nossa humilde e inacabada pretensão de um cronista local, de um simples garimpeiro das palavras. Aliás, pensar em alagoanidade poderia usar aquela de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras onde cantam os sabiás; mas também tem sururu que tem a cabeça enterrada na lama”.

Também na minha terra quem tem um olho é rei, e quem descobre isso, logo cedo, quase sempre se da bem por aqui. Mas lembremos de que a lama do sururu é muito rica em matéria orgânica e é por isso que seus mariscos são tão nutritivos. Cabeça enterrada na lama pode significar, por exemplo, um sururu cheio de fosfato; e desconfia-se que ele foi o causador do surgimento de algumas cabeças pensantes como a de Pontes de Miranda, que vivia em Maceió e residia na antiga Rua da Lama próximo a Levada. Pontes com certeza deve ter comido muito sururu, o que comprova sua notabilidade.

Também outros como Arthur Ramos que era do Pilar, e aí, não precisa dizer mais nada, pois certamente trata-se de mais um beradeiro de lagoa. Olha, se formos falar de todos os notáveis papa-sururu a lista será extensa; isso levando em consideração os anônimos.

Nossos mananciais lacunares, no que pese as agressões do meio ambiente, ainda são verdadeiras mamas de leite, pois continuam dando sururu; pequeno mais dá. Na verdade, se não fosse à pesca predatória o tamanho do marisco era o dobro do que se ver. Agora há um detalhe: os baianos estão levando boa parte do nosso sururu, pra felicidade de quem pesca, mas para o desprazer do alagoano que poderá vir, num futuro breve, pagar um preço de camarão num quilo do marisco. Vamos explorar esse mercado que se abre na vida dos pescadores das lagoas; porém, vamos esperar que o poder público chegue junto e implemente uma política contra a pesca predatória.

A propósito, um sururu danado anda rolando por aí. Na imprensa todos os dias se ouve a revolta dos homens éticos e bem intencionados, indignados com o mensalão, corrupção e conjuntura nacional. Estes últimos dos moikanos da elite pensante da política brasileira. continuam incisivos, decepcionados, afastados, mas, ainda crentes num futuro para esse povo. Eu cá pra mim, dentro deste curral esquecido chamado Alagoas, pelo que tenho visto, chego à conclusão de como é difícil, confuso e polêmico discutir o Brasil. É até desanimador. Prefiro neste caso ficar com a música brasileira e sua cultura que são fantásticas; e me valer daquelas palavras de um velho repórter calejado: “quanto tempo já perdi levando este país a sério”.

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