No condomínio de luxo, situado bem próximo à praia de Ipioca, Recanto das Águas que funciona como pousada, uma quadrilha dividia espaço com turistas e moradores. Dois homens, utilizando equipamento especializado em clonagem de veículos, adulteravam cor e chassi de carros na própria casa onde estavam hospedados. Natanael Vieira de Albuquerque, 38 e Slank Batista dos Santos, 39, foram autuados em flagrante pelo delegado de Roubos e Furtos de Veículo, Carlos Alberto Reis, quando praticavam o crime.
No local, onde a Polícia chegou por meio de denúncias à Secretaria de Justiça e Defesa Social, talões de cheques e cartões de crédito, no nome de José Renato Rodrigues Macedo, foram encontrados, além de documentos falsificados, entre eles, um laudo de vistoria do Detran assinado e carimbado em branco. No documento, os nomes do soldado PM e examinador veicular, José Elói Santiago e Robson José Onorato dos Santos, também examinador veicular do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/AL).
O golpe
O golpe funcionava a partir do financiamento de veículos. Os golpistas adquiriam documentos falsos, como Carteira de Identidade e CPF, um comprovante de residência e renda, e buscavam os financiamentos. Com a documentação “legal”, pelo menos aparentemente, eles conseguiam adquirir o veículo, que logo seria clonado e vendido a um preço bem menor, sem prejuízos, já que os financiamentos ficavam para trás.
Com o equipamento adequado, eles aproveitavam placas e números de chassi de veículos que tiveram perda total e transferiam para os veículos novos. Depois disto utilizavam o laudo de vistoria do Detran para comprovar a legitimidade do veículo, que era vendido de R$ 5 a R$ 6 mil, em Maceió e demais municípios alagoanos.
Para o delegado Antônio Carlos Lessa, a prática não é novidade. “Esta é mais uma das modalidades criminosas de quem lida com roubo de veículos. Tudo nos leva a crer que outras pessoas, cerca de cinco ou seis, estão envolvidas nesta quadrilha. Infelizmente, no momento em que chegamos só estavam os dois”, conta Lessa.
Ele conta também que pelo menos cinco financiamentos foram conseguidos em Alagoas. Um Pálio 2002/2003, através do Banco Real, que estava nome de Francisco Alberto Alves da Rosa; um Fiesta financiado pelo HSBC, no nome de Francisco Barbosa da Rocha; um Pálio 2004/2005, pelo Banco Finasa de Rio Grande, município de Penedo, também no nome de Francisco Barbosa da Rocha; um Fieta 2004, financiado pelo mesmo banco, na Mandacaru Veículos, com mesmo nome de cliente; e um Ecosport 2004, no nome de José Renato Rodrigues Macedo, nome que aparece nos cheques encontrados na casa.
Defesa
José Renato Rodrigues Macedo, Francisco Alberto Alves da Rosa; Francisco Barbosa da Rocha, que diz se chamar, Slank Batista dos Santos, não se considera inocente, mas apóia sua defesa na necessidade. Segundo ele – que já foi candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL), no município de Governador Edson Lobão, no Piauí – as dificuldades o levaram a praticar os crimes.
“Não tenho residência fixa em Maceió, estou seguindo por diversos municípios e vim comprar carro financiado para clonar. Não é tão fácil, mas não é difícil, basta ter uma documentação e pronto, afinal ninguém confirma tanto. Algumas vezes já deu errado, mas na maioria das vezes conseguimos fazer o trabalho”, contou Slank.
O golpista nega o envolvimento de outras pessoas e afirma que no caso da documentação oriunda do Detran, não há participação de funcionários. “Não tem ninguém mais, além de nós dois. As carteiras de identidade vem de Minas Gerais, é só pedir, os CPFs são de pessoas já falecidas, que reutilizamos e documento do Detran foi um erro deles, um descuido, não tem mais ninguém envolvido, além de nós”, completa.
Providências
O delegado Antônio Carlos Reis informou que vai enviar todo o material apreendido para a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículo, no Pontal e solicitar um relatório do Infoseg, além de informações do Instituto de Identificação do Piauí sobre os verdadeiros nomes dos indivíduos presos. Eles estão sendo autuados em flagrante e responderão por crimes de receptação e falsificação de documentos.
O delegado também vai pedir que seja aberta uma sindicância no Detran, e aberto um procedimento administrativo para apurar a questão da emissão dos laudos periciais e participação de funcionários no esquema.