Viajando no Fiat Elba que derrubou Collor

Nos finais de semana, quando estava em Brasília, o presidente abria as portas da “Casa da Dinda” ao público; a mesa farta posta ao ar livre atraia os quero-quero que se exibiam em vôos rasantes entre os convidados, querendo disputar das frutas tropicais, sucos e salgadinhos – e nada de bebida alcoólica.

Os jornalistas adeptos da cervejinha ou do uísque camuflavam-se na cozinha e lá bebericavam na baixa; e foi assim que, naquele domingo, se surpreenderam quando o presidente decidiu dar uma volta de carro.

Sem tempo para irem até os carros de reportagem, os jornalistas embarcaram no Fiat Elba usado para as compras no supermercado que abasteciam a cozinha da “Casa da Dinda”. O motorista, sem a experiência de lidar com jornalistas estressados, tentou alcançar o carro do presidente e acabou batendo numa árvore.

Apenas danos materiais; os ferimentos nos passageiros foram coisas leves e o presidente só soube do ocorrido depois. E entre mandar consertar o carro e comprar um novo, decidiram pelo novo e foi aí que começou a história do “impeachment” do Collor.

O famoso Fiat Elba que compôs a peça processual como se fosse a prova de um crime hediondo na administração pública, tal qual a “luxúria” das cascatas da “Casa da Dinda”, foram meros cavalos de batalhas.

Collor caiu por outros erros, e a maioria deles erro de avaliação. Isto não quer dizer que tenha sido impecável, mas acreditar que lhe tiraram da presidência por causa de corrupção é de uma inocência pagã. Ou de uma má-vontade que se entende, mas não se compreende como possa prosperar diante de maus-feitos piores.

Diz-se erro de avaliação quando se recusou a negociar com o Congresso Nacional; quando estimulou a criação de uma rede nacional de televisão – o que desagradou a Globo; quando abriu o mercado brasileiro, surpreendendo empresários acostumados a viverem sob a proteção do Estado; quando se insurgiu contra a máfia do cimento; quando chamou os carros fabricados no Brasil de carroças; quando chamou o presidente da FIESP de “capitão do mato”; quando mandou a Polícia Federal invadir a Folha de S. Paulo. E por aí.

Collor, agora, parece ter feito a auto-crítica; pelo menos admite ter sido inábil na convivência com a classe política. Com certeza deve ter entendido que o presidente da República do Brasil se elege para governar com uma Constituição Parlamentarista.

Foram 14 anos afastados da política e enfrentando várias provações, como ele mesmo define. Ao recuperar o mandato e chegar ao Senado, o Collor está reescrevendo a sua história; e a República estará protagonizando o desfecho daquela história mal-contada do Fiat Elba.

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