Integrantes da Apac revelam detalhes do que aconteceu no presídio

Alagoas24horasVerinaldo Dantas, presidente da Apac e os integrantes que ficaram como reféns

Verinaldo Dantas, presidente da Apac e os integrantes que ficaram como reféns

Além dos três dias de tensão, medo e dúvidas, os cinco integrantes da Associação de Proteção e Assistência Carcerária (Apac) presenciaram fatos e ações restritas aos presos e às pessoas ligadas diretamente ao Sistema Penitenciário.

Em entrevista coletiva, eles contaram um pouco de tudo o que viveram e como foi o contato com os presos, que estiveram rebelados da tarde do último sábado à noite de ontem. A agonia começou quando eles foram ao Presídio Baldomero Cavalcanti, para realizarem trabalhos de evangelização. “Quatro mulheres da Apac chegaram a entrar no presídio pensando que iria ter a celebração da missa. Mas o Fernando [Teles] encontrou com elas no módulo e disse que não iria ter missa e pediu que elas fossem ao encontro de Maria Helena, no Presídio Santa Luzia”, relatou o promotor aposentado Francisco Torres, um dos fundadores da Apac e presidente do Conselho Penitenciário.

Logo que entraram no módulo V, quando estavam com os presos, eles mostraram espetos e armas artesanais e fizeram os cinco integrantes da Pastoral Carcerária como reféns. Além de Francisco Torres, estavam os ex-bancários Gildo Carlos de Melo, Denisson Dantas e Fernando Teles, mais o economista e funcionário da Secretaria Executiva da Fazenda, Bartolomeu Bueno.

O momento foi um dos mais marcantes para Denisson Dantas, que não esperava isso dos presos, já que, em rebeliões, os integrantes da Apac sempre ajudavam nas negociações, mas nunca haviam sido reféns.

“No começo separaram a gente e ficaram três numa cela e o Gildo e o Denisson foram para a frente. Eles amarraram colchões neles e ameaçaram colocar fogo. Depois, nós decidimos ficar sempre juntos e sair apenas juntos, para que ninguém ficasse sozinho com os presos”, explicou Torres.

Sobre o momento, Gildo Melo disse que eles realmente ficaram no meio do confronto e também contou que os presos fizeram várias ameaças nos momentos tensos. “No momento, a gente pensava sempre que, se houvesse alguma invasão deveria sobrar para a gente”, detalhou.

Em meio a noites sem dormir e dias sob muito estress, os reféns não se alimentavam direito, por opção de não comer as mesmas comidas dos presos. De acordo com Francisco Torres, o medo era passar mal, já que eles não eram acostumados com a alimentação do sistema e, segundo Teles, a alimentação se restringia a biscoito e bolacha.

Negociação

O primeiro refém que foi libertado, Francisco Torres, foi escolhido pelos presos para sair e tinha a missão de negociar com o Governo, para então voltar ao presídio. Ele saiu no início da tarde de segunda-feira e passou a ajudar nas negociações pelo lado de fora do presídio.

No lado de dentro, os presos assistiam e ouviam tudo o que era veiculado pela imprensa. “Na tarde de ontem, eles ouviram uma pessoa que dizia ser detento e estava falando do presídio e ficaram loucos. Eles sabiam de tudo o que acontecia do lado de fora”, disse Bartolomeu Bueno.

O economista ainda contou que, na noite de segunda-feira, quando foi divulgado que apenas os módulos II e IV estavam com o clima tenso, o módulo V, onde estavam os reféns, os presos também se confrontaram com o Grupo de Ações Penitenciárias (Gap).

“Os presos nos levaram para fora e nos usaram como escudos porque éramos a única esperança deles. Mesmo assim, os homens do Gap atiraram contra a gente. Nessa mesma noite, outros presos, do módulo IV, passou para o módulo V pelo telhado e dois deles caíram e tiveram alguns ferimentos”, relatou.

Depois da assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta, no final da tarde de ontem, os presos aceitaram a libertação dos reféns. “Se tinha 60 pessoas, eu ganhei 60 abraços e apertos de mão. Antes de sairmos, eles também pediram que fizéssemos uma oração, pela nossa vitória e pela deles”, finalizou Denisson Dantas.

Ao encontrar a família, a mulher de Gildo Melo teria pedido que ele não voltasse mais ao presídio. Entretanto, conscientes do trabalho que fazem com os detentos, o grupo pensa em dar um tempo e depois voltar às atividades. "Foi uma situação delicada, mas o trabalho tem que continuar", afirmou Gildo Melo.

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