Comemorado há 32 anos, o Dia Nacional da Consciência Negra lembra o assassinato de Zumbi, morto em 1695 e considerado o mais importante líder do quilombo de Palmares (AL), maior e mais importante comunidade de escravos, com população estimada de mais de 30 mil pessoas.
Em União dos Palmares, município que é cenário vivo da luta pela igualdade, as comemorações ficaram por conta das apresentações culturais com a Fundação Cultural Palmares, Instituto Magna Mater e doze grupos alagoanos ligados à cultura afro. Além de celebrar as conquistas do movimento negro no país, a iniciativa visa difundir a cultura negra nos diversos segmentos da sociedade, além de valorizar os grupos afro-culturais.
Em 1971, o 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez no Brasil. Segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a idéia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Ubiratan Castro de Araújo, afirmou que, para o Brasil, o dia 20 de novembro reafirma o valor das várias culturas africanas que foram transportadas por aqueles que vieram como escravos para o Brasil.
“Em Palmares, durante 100 anos, construiu-se uma sociedade alternativa, um projeto de Brasil que era outro que não o do escravismo colonial, onde todos aqueles que vieram da África e que fugiram da escravidão acharam refúgio dentro da tradição africana, organizados em trabalho livre e igual”, afirmou Ubiratan.
Segundo ele, muitos negros têm a cabeça feita pelo racismo e fogem da identificação com a raça para não serem vistos como inferiores, afirmando que são “moreninhos, escurinhos, pintadinhos ou da cor de búfalo quando chove”, ao invés de se assumirem como negros. “É uma situação no mínimo inocente, já que o que é importante é que todos nós tenhamos consciência do que somos”.
Sobre a política de cotas nas universidades, o presidente da Fundação Cultural Palmares disse que esta é uma medida necessária e urgente para inverter uma tendência centenária de exclusão do negro. “A população negra brasileira beira os 50%, e nós tínhamos participação de no máximo 3% a 4% de população negra no ensino superior”.
A medida de cotas, portanto, seria uma reserva de vagas a curto prazo para cobrir a distância entre brancos e negros. “Evidentemente, daqui a 10 anos ou 15 anos, depende de como se avalie quanto essa medida tiver surtido resultados, não haverá mais necessidade”, disse Ubiratan.
Sobre a obrigatoriedade do ensino de história afro-brasileira nas escolas públicas e particulares, Ubiratan lembrou que, apesar de constar da Lei de Diretrizes e Bases, a medida ainda não foi adotada por muitas escolas municipais, estaduais e particulares. “Não se trata de confrontar, se trata principalmente de formar todos os brasileiros, de todas as origens, de todas as formações, de todas as regiões, sobre a importância da cultura negra”.