Tratava-se de mais um acidente de carro onde pessoas feridas estavam sendo atendidas e levadas para o hospital. Mas enquanto tudo isso acontecia, um buraco em um muro me chamou atenção porque ali entravam e saiam crianças desconfiadas. Curioso, decidi entrar e após o primeiro obstáculo vi uma casa abandonada com 3 quartos e logo na entrada, numa sala fedida e cheia de fezes, cruzei com três meninos ainda sob o efeito do Crack…
Continuei minha aventura e confirmando, como cidadão, que todas as últimas colocações obtidas pelo Estado de Alagoas em diversas áreas sociais e de segurança estavam sendo resumidas ali na minha cara, decidi continuar adentrando e no outro quarto quatro adolescentes preparavam o crack em uma lata de energético. Assustaram-se e sem nenhuma ordem verbal já se colocavam nas paredes esperando serem mais uma vez revistados ou presos, mas sabendo no fundo que nada lhes aconteceria…
Decidi então falar com voz firme que se retirassem dali rapidamente e num piscar de olhos desapareceram. Finalmente, no terceiro quarto, vi ali na minha frente sem nem se assustar ou temer algo, um menino de uns 8 anos. A fumaça ainda girava naquela pequena boca e nem mesmo a minha presença o amedrontava… Naquelas condições, o crack faz jovens matarem amigos, jovens assaltarem, jovens praticarem seqüestros, jovens arrombarem casas, jovens arrombarem carros e jovens assassinarem os próprios pais.
Nessas últimas semanas foram apreendidos quase 3 quilos de crack e esta droga que ouvíamos e assistíamos apenas na televisão, assim como os seqüestros relâmpagos, os golpes de cartões, os assaltos a turistas e até mesmo a disputa de bocas por traficantes, que de tão conhecidos valem recompensa como nos filmes de faroeste, finalmente chegou a Alagoas e pior, está sendo utilizada em larga escala. O crack, segundo especialistas, é a pior das drogas. Em segundos, após a primeira tragada da fumaça, o ser humano perde completamente a noção das coisas e fora de si é capaz de cometer as piores das loucuras.
Ora, num Estado onde o desemprego e a falta de oportunidade para jovens é absurda, onde a 2 quilômetros do bairro mais rico crianças são tratadas de hanseníase, onde a 2 quilômetros do bairro mais pobre jovens gastam suas gordas mesadas comprando ecstase, e os traficantes encontraram o paraíso perfeito para negociar essa droga que é relativamente barata, que pode viciar logo na segunda vez que é utilizada, mas que custa muito caro para a saúde de quem a utiliza!!
Esse problema não é só para ser discutido em seminários com coffe break caríssimo nem em auditórios de hotéis de 5 estrelas, mas para ser encarado como nossa nova realidade. E o pior: aquele garotinho que antes conseguia 5 reais num semáforo para comprar pão e levar para aquele cultivo humano de votos para as eleições que é a beira da lagoa ( quanto mais miserável mais fácil de se comprar) hoje compra uma pedra de CRACK e se conseguir chegar à adolescência poderá, em uma das quase overdoses, matar um de nossos filhos e depois nem saber o que fez!!
Já sabemos, de tanto ouvir os especialistas que nunca passaram uma madrugada acompanhando uma guarnição de polícia enfrentar os piores lugares mais que quando acordam e colocam o paletó e o “gelzinho” no cabelo transformam-se nos descobridores de soluções, falarem que a violência é um problema social e que não é resolvida apenas com a intervenção da segurança pública. Mas sem dúvidas, esse aumento insuportável da violência em Alagoas, especificamente dos crimes de homicídio, pode estar sendo ocasionado pela chegada dessa droga destruidora.
Que Deus esteja conosco e que nossos administradores pensem e com ou sem os seus especialistas tomem providências imediatas para que se acabe a estadia do CRACK no paraíso das águas.