Marcela de Jesus Ferreira completou hoje dez dias de vida. O bebê, que nasceu com 2,5 kg e 47 centímetros, já é capaz de mamar e não precisa da ajuda de aparelhos para respirar. Tudo normal, não fosse o fato de Marcela ter nascido sem cérebro. O caso é raro, já que bebês com quadro de anencefalia (ausência de cérebro) costumam viver apenas minutos ou horas após o parto.
O bebê está em um dos quartos da Santa Casa de Patrocínio Paulista, a 432 km de São Paulo, na região de Ribeirão Preto, ao lado da mãe, Cacilda, de 36 anos. "Ela pertence a Deus", diz Cacilda, católica, e que diz nunca ter cogitado a hipótese de interrupção da gravidez.
O ginecologista José Mauro Barcellos, que também é prefeito da cidade e fez os outros dois partos de Cacilda, identificou a situação após um ultra-som feito aos quatro meses de gravidez. A pediatra Márcia Beani, que acompanha Marcela desde o nascimento, não arrisca prognósticos sobre o futuro da menina. "Até agora, ela surpreendeu, é um caso raro, e vamos mantê-la com dignidade, alimentação, aquecida e com oxigênio", afirma.
Apesar de não ter cérebro, o bebê ainda tem o tronco cerebral, responsável por controlar as funções mais básicas do corpo humano, como o batimento cardíaco e a respiração. Estudos apontam a possibilidade de a criança permanecer com vida por até três meses após o nascimento, embora seja uma situação muito rara – apenas 1% dos casos, segundo a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), autora do projeto de lei que prevê a legalização do aborto para fetos portadores de anencefalia.