Em um sinal claro do grau de deterioração da segurança na Faixa de Gaza, um grupo de crianças foi às ruas nesta terça-feira para queimar pneus e ameaçar atirar pedras se os "adultos" não colocarem fim ao caos reinante.
Vestido com calça jeans e camisa azul, Saeed Salem, 12, e seus amigos disseram estar indignados com a morte de três irmãos pequenos, na segunda-feira, e cansados com a constante falta de segurança responsável por arruinar as vidas deles.
"Estamos furiosos", disse Salem, quando ele e seus amigos colocavam fogo em pneus em uma rua da região central da cidade de Gaza. "Os que mataram as crianças precisam ser achados e apedrejados até a morte".
Ahmed, um amigo dele cujas mãos ficaram pretas por jogar pneus no fogo, afirmou que os adultos estavam imersos em suas desavenças e que tinham deixado de lado as crianças. "Não temos parques de diversão para freqüentar e nenhum clube esportivo para ir" afirmou o garoto. "Deixem-nos, ao menos, viver em paz".
Na segunda-feira, a Faixa de Gaza deu mais um passo rumo ao caos total – homens armados mataram três irmãos, com idades entre 6 e 9 anos, quando eles eram deixados em uma escola.
O pai das vítimas é um oficial da área de inteligência apontado como uma pessoa próxima do presidente palestino, Mahmoud Abbas. As mortes ganham, assim, um peso político, apesar de não haver ainda indícios claros sobre a identidade dos culpados.
O partido Fatah, liderado por Abbas, e o rival dele, o Hamas, que controla atualmente o governo palestino, trocaram acusações a respeito dos assassinatos, ampliando a tensão na área. Os dois movimentos estão bem armados.
Na terça-feira, Abbas enviou soldados para as ruas a fim de restabelecer a ordem e decretou um dia de luto pelas crianças mortas. No entanto, apesar da presença de um número maior de membros das forças de segurança, ativistas rivais entraram em choque e ao menos duas pessoas ficaram feridas.
Como fizeram as crianças, mães palestinas também disseram estar assustadas com os recentes assassinatos e com a crescente violência na Faixa de Gaza. Estações de rádio receberam várias ligações de pessoas criticando a morte dos irmãos.
"A vida se transformou em um inferno na Faixa de Gaza", disse Umm Mohammad, uma mulher com véu que comparecia a uma cerimônia organizada para lembrar os meninos mortos. "O governo e o presidente estão ocupados demais com suas disputas e não ligam para a vida das pessoas".
"Os que mataram as crianças não tinham misericórdia, não tinham religião", afirmou. "Eu pensei nos meus filhos. Eles poderiam estar entre os mortos ou entre os feridos".
Os temores sobre o futuro da Faixa de Gaza tornaram-se mais palpáveis nos últimos meses, período durante o qual aumentou a tensão entre a Fatah e o Hamas e no qual fracassaram os esforços para retomar o envio da ajuda internacional aos palestinos.
O analista palestino de política Muheeb al-Nawati previu, em um artigo publicado nesta semana, que o pior ainda está por vir. "O que virá a seguir?", perguntou Nawati, observando que crianças não são mortas por engano. "A resposta é que podemos esperar carros-bomba, esperar uma era que nos levará a um palco de sangue, com pedaços de vítimas não identificadas nas ruas".