Família pede ajuda para salvar jovem vítima de acidente

Acidente ocorreu na noite do dia 13 de fevereiro
Acidente ocorreu na noite do dia 13 de fevereiro

Pouco mais de dez meses se passaram desde a tragédia de trânsito que matou três pessoas e deixou nove feridas no ponto de ônibus do Shopping Iguatemi, na Avenida Dona Constança, quando Anderson Cleiton Fernandes dos Santos, 30 anos, dirigindo a 120 quilômetros por hora, uma Hilux placa MUR–6240, perdeu o controle e atingiu as pessoas na parada de ônibus; entretanto as marcas do desastre continuam vivas e doloridas nos sobreviventes e familiares. É o caso de Kerlyson Franco de Azevedo Casado, 21, estudante de Fisioterapia, que sofreu uma lesão e perdeu as funções: desde andar, à deglutir, a chamada tetraparesia.

A mãe de Kerlyson, Nadja Maria Franco de Azevedo, recorda com saudade o tempo em que vibrava com as conquistas do filho, que estava para se formar este ano e se orgulhava de ser um fisioterapeuta. Seu sofrimento é ainda maior quando lembra da eletricidade do rapaz – muito querido pelos amigos – que hoje está sobre uma cama, sem movimentos e totalmente dependente dela e da filha, Kellen Franco de Azevedo. Sua luta hoje é manter seu filho vivo e conseguir sua reabilitação.

Nadja, que trabalha como escrivã da Polícia, conta que sua vida virou de cabeça para baixo desde o momento do acidente, quando de plantão na Deplan III, registrou o caso de um indivíduo, preso em flagrante por atropelar diversas pessoas em um ponto de ônibus. “Eu estava de plantão naquele dia, quando chegou um indivíduo ensangüentado, preso por atropelamento com vítimas fatais. Pela quantidade de pessoas que o acompanhavam, entre parentes e advogados, senti que o caso era grande, mas até então não sabia do que se tratava. Então fiquei sabendo que tinha acontecido um acidente no ponto do Iguatemi. Quando chegou o relatório parcial das vítimas, pedi que um colega lesse em voz alta para eu registrar, e o primeiro nome que ouvi foi o do meu filho Kerlyson. Neste momento nossas vidas e nossa alegria acabaram”, afirma emocionada.

Depois do atendimento na Unidade de Emergência, a batalha da família era encontrar atendimento adequado, um hospital que pudesse suprir a carência da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da UE. Usuária do Ipaseal saúde, ela contou apenas com o apoio de amigos para conseguir internamento no Hospital Universitário e em seguida no Hospital do Açúcar, onde ele recebeu tratamento até ir para casa, em meados de junho. “Apesar do desgaste, das dificuldades de manter meu filho nos hospitais, quando ele veio para casa, a situação ficou ainda mais complicada porque as despesas com o tratamento aumentaram infinitamente. De junho para cá, nós gastamos mais de R$ 20 mil reais, somente com alimentação e preciso gastar muito mais, tirar de onde não tenho, para manter Kerlyson vivo”, conta.

A coleção de notas fiscais e receitas médicas cresce à cada dia, de forma proporcional às dívidas que acabaram levando a mãe de Kerlyson ao SPC e Serasa. Por semana são gastos cerca de R$ 2 mil, com alimentação – composto preparado especialmente para pacientes que possuem uma sonda ligada ao estômago (gastrostomia) – medicamentos, fraudas descartáveis, entre materiais de higiene pessoal e curativos. “Agora só tenho dívidas, até meu carro terei que vender para pagar uma parte. Estava terminando de pagar um terreno, mas vou perder porque não tenho condições de pagar os meses que faltam. Os nossos telefones estão cortados e as contas de casa atrasadas, e nós não temos o que fazer porque, entre pagar as contas e a vida do meu filho, não tem o que escolher”, continua Nadja.

despesas

Quando perguntada sobre o auxílio recebido pelo responsável pelo acidente, Anderson Cleiton Fernandes dos Santos, Nadja silencia e não consegue conter a emoção. Sua maior revolta é saber que seu filho, que segundo ela não bebia, foi vítima da irresponsabilidade de um bêbado. “A bebida do meu filho era um copo de leite no almoço. Um rapaz jovem e cheio de vida como Kerlyson, foi vítima de um criminoso que está nas ruas, levando uma vida normal, farrando e dirigindo de forma irresponsável, como sempre fez. Alguém que nunca chegou para oferecer ajuda, nunca se disponibilizou a custear, nem dividir, despesas e quando representei contra ele, junto à polícia, ele foi capaz de dizer que ofereceu ajuda e eu não aceitei”, contou entre lágrimas.

Nadja revela que no dia em que saiu do hospital, quando os médicos disseram que a reabilitação de Kerlyson dependia da idade e da natureza, ela pensou em fazer vingança, mas tudo não passou de um momento de desespero. O desejo de justiça foi substituído pela vontade de ver seu filho recuperado, e para tal, não mediu esforços. “Desde o hospital, tenho inventado de tudo para ver meu filho renascer. Quando o médico dizia que estava preocupado que meu filho perdesse os movimentos nas pernas, eu inventava uma bicicleta de cama, levava objetos que o fizessem relaxar e saia fingindo ser enfermeira e fisioterapeuta. Hoje nós estamos com uma neurologista fazendo a fisioterapia duas vezes por semana e uma fonoaudióloga que vem apenas quatro vezes ao mês, e tudo porque não temos condições de pagar. Entretanto, percebemos que ele tem evoluído, já consegue deglutir e começando a falar”, disse.

Tratamento

Outra iniciativa da mãe de Kerlyson, foi transformar o quintal em um espaço de fisioterapia. Nadja tem tentado conseguir o material, necessário para o tratamento, com conhecidos e apesar da boa vontade de algumas pessoas, não conseguiu muita coisa. “Estamos precisando de tudo aqui. Por enquanto só temos uma cama, e uns tapetes de borracha para realizar os exercícios no chão. E apesar de estar me esforçando muito para ir adiantando o tratamento do meu filho em casa, o que mais queremos é conseguir uma consulta no hospital Sara Kubitschek. Para isso, estou em contato com conhecidos que tenham influência política e que possam nos ajudar”, completa.

Esperança

No quarto de Kerlyson, uma verdadeira UTI, sua mãe e irmã brincam e acarinham o rapaz de olhos atentos e eloqüentes que passa os dias assistindo TV. A regra na casa é clara: Kerlyson jamais vai ver alguém chorar na sua frente. “Muitas vezes brincamos, cantamos, dançamos para ele, mas quando saímos do quarto, nos debulhamos em lágrimas”, conta. Enquanto esconde as lágrimas do filho, Nadja confessa que este, é sem dúvida, o pior natal de sua vida. “Minha família está destroçada. Nossa alegria acabou, é muito sofrimento”, comenta, até ser interrompida novamente pela emoção.

No rosto de Kerlyson, a expressão de quem tem muito a dizer, parece garantir aos familiares e amigos que tudo ficará bem. Ele ouve atento sua mãe dizer que está melhorando e que falta pouco para alcançar a reta final e levantar a bandeira da vitória, e depois sorri.

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