O ano de 2002 teve “Cidade de Deus”. 2003 teve “Carandiru”. 2004, “Olga”. 2005, “2 filhos de Francisco”. E 2006? Foi um ano em que o cinema brasileiro não brilhou como noutros ou, ao menos, foi incapaz de combinar sucesso de público e de crítica.
Prova disso é nosso representante na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, “Cinema, aspirinas e urubus”. Apesar do sucesso de crítica, o longa levou apenas 120 mil espectadores aos cinemas. Nada próximo dos candidatos de outros anos, tais como “2 filhos de Francisco” ou “Carandiru”, que tiveram público em torno de 5 milhões e 4,5 milhões, respectivamente. Os dados são da Ancine e da Filme B.
No ranking anual dos filmes que mais faturaram nos nossos cinemas, há apenas um representante tupiniquim: “Se eu fosse você”, com 3.644.618 de espectadores. A comédia romântica de Daniel Filho ficou em terceiro lugar, perdendo apenas para a animação “A era do gelo 2” e “O código Da Vinci”. Entretanto, o longa não foi exatamente um sucesso de crítica. Apesar do elogiado desempenho do elenco (encabeçado por Tony Ramos e Glória Pires), o filme foi atacado pelo enredo nada criativo e por reproduzir linguagem televisiva. Entenda os motivos do sucesso de “Se eu fosse você”.
Para o cinema nacional, no geral, 2006 foi um ano de vacas magras, mas, ao menos, a quantidade de vacas foi grande. Foram 67 longas-metragens, no total, mais títulos que 2004 ou 2005, que tiveram 59 e 42, respectivamente, e mais do dobro de 2001, 2002 e 2003, que tiveram não mais que 33 longas nacionais lançados.
Teve filme para todos os gostos: do biográfico “Zuzu Angel” ao cult “O céu de Suely”, passando pelo dramalhão “Anjos do sol”, o besteirol “Muito gelo e dois dedos d’água” e o pequeno hit “O ano em que meus pais saíram de férias”. Porém, poucos tiveram um bom resultado de bilheteria; cerca de 80% da produção levaram não mais que 100 mil pessoas às salas cada.
O resultado foi uma diminuição de 17% na renda do cinema nacional e uma pequena queda no “market share”, ou seja, na fatia do mercado ocupada por filmes brasileiros, de 13% para 12%, em relação a 2005. Mas não são só os longas nacionais que vão fechar o ano no vermelho, os estrangeiros também tiveram queda, de 2%. Isso reflete a baixa de 7% no número total de espectadores nos cinemas brasileiros, em comparação com o ano anterior. Os dados são de relatório da Filme B.
O encolhimento do público dos cinemas brasileiros segue uma tendência internacional, motivada pelo fortalecimento do entretenimento caseiro (TV paga, internet, venda e locação de DVDs) e da pirataria. Mas nem todo mundo termina 2006 perdendo: o público dos dez filmes mais vistos aumentou 6% em relação aos líderes de 2005, o que traduz uma concentração do mercado. Não só as pessoas estão indo menos ao cinema, como estão dando cada vez mais prioridade aos “blockbusters”. E o cinema brazuca, que em 2006, mais do que nunca, primou pela diversidade, saiu perdendo. Ao menos em termos financeiros.
Para 2007, a perspectiva é de melhora, com o lançamento do esperado “Cidade dos Homens”, de Fernando Meirelles, “Antônia” (longa que inspirou a série da Globo), de Tata Amaral, “Polaróides urbanas”, de Miguel Falabella, e “A grande família”, de Maurício Farias. Outros títulos que prometem são “Caixa dois”, de Bruno Barreto, estrelado por Giovana Antonelli, “O magnata” (estréia de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., no cinema), de Johnny Araújo, “O passado”, de Hector Babenco (de “Carandiru”) e “Saneamento básico”, de Jorge Furtado (de “Meu tio matou um cara”).