Em março, a mistura de etanol na gasolina deve subir de 25% para 27%, segundo uma decisão do governo federal. Mas um dos pontos mais polêmicos é que os carros que não são flex — ou seja, aqueles que são movidos apenas ao combustível derivado de petróleo — deverão ser abastecidos apenas com gasolinas premium ou podium, em que o percentual de etanol continuará de 25%. O objetivo é evitar problemas mecânicos.
O problema é que a gasolina aditivada no Rio custa, em média, R$ 0,70, a mais do que a comum. Com isso, ao encher o tanque com 50 litros, o custo será R$ 35 mais alto.
O mesmo valerá para as motocicletas, que só podem ser abastecidas com gasolina. A saída será usar a aditivada. A recomendação é da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O novo percentual de etanol poderia ser de até 27,5%, mas as bombas nos postos não têm capacidade de fazer a análise do percentual fracionado.
Francisco Satkunas, engenheiro da SAE Brasil, diz que a adição de mais etanol aumentará o consumo de combustível em até 4%. Nos carros flex, não haverá prejuízos ao motor. Mas os modelos antigos serão afetados.
— Todos os carros com carburadores serão afetados, ou seja, praticamente todos os produzidos até 1990. Esses terão dificuldade de dar partida no frio.
Valor para consumidor não sofre redução
De acordo com Francisco Satkunas, o fato de adicionar mais etanol à gasolina não traz benefícios para os motoristas:
— A pessoa paga por gasolina pura. No entanto, mais de um quarto do produto é álcool. Se aumentam o percentual de etanol, deveriam diminuir o preço do combustível, mas isso não vai acontecer. A alteração na composição foi um pedido de representantes do setor sucroalcooleiro, para dar um fôlego a essa indústria, mas isso não vai recuperá-la totalmente.
Em reunião com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na segunda-feira, representantes da Anfavea e do setor sucroalcooleiro fecharam o acordo de aumento da mistura do etanol. “A decisão de manter a gasolina premium inalterada se deve à não conclusão dos testes de durabilidade e, portanto, a Anfavea recomenda que os veículos com motor movidos a gasolina utilizem a premium”, declarou a entidade, em nota.
Nas ruas, motoristas reclamam
O aumento do nível de etanol na gasolina foi mal recebido pelos motoristas, principalmente pelo gasto adicional que virá com a medida. Para o motoboy Ernane Marques, 33 anos, a determinação do governo não veio no momento certo devido ao atual preço do combustível.
— É uma atitude descabida. O custo aumentará, e serei obrigado a usar um produto, sem escolha — disse.
Mesmo com um cilindro de GNV no carro, o autônomo Adilson Januário, de 46 anos, diz que o aumento da mistura de etanol não foi acertado:
— Eu posso até não abastecer com gasolina, mas tem o motorista que tem somente essa opção. É um absurdo.