Acorda menino o tempo tá te chamando pra viver! Aproveita abre os olhos e veja as maravilhas que sua terra tem. É muito rápida a cronologia e o andar das nossas existências.
Hoje estou eu aqui relembrando e revivendo algo que me impulsiona audaciosamente a escrever. Nada de “fantástico” ou até mesmo “inovador”, com olhos cheios d’água, aprisionado às imagens que não me saem da cabeça – Elas, são donas da minha cabeça.
Tive o privilégio de nascer numa terra fértil, culta, vibrante e cheia de homens e mulheres de boa cepa. Em Anadia o que brota do seu chão tem um sabor diferenciado, é doce, é palatável, é saboroso, tem sustância. Digo isso, pois tenho PHD em “visitas” aos quintais e sítios – Verdadeiros pomares, na companhia de amigos de infância.
É de bom alvitre aqui não reproduzir provas das nossas travessuras – Elas já foram prescritas pelo tempo. Confesso fazendo uma pergunta, quem já não cometeu tal deslize?
Acrescentando as belas recordações da minha apaixonante terra, o casario esplendoroso e inebriante.
Surge em minha mente a visão ao abrir a porta do quintal da nossa casa, uma varanda enorme, um guarda corpo de madeira, a escadaria que nos levava a um verdadeiro sitio ecológico.
Sem soberba, mas com muita saudade revejo como em um filme as cenas do casal de ararão, o papagaio que cantava “Detenha as horas relógio…”, as marrecas, as tartarugas, galinhas, porcos, perus… O meu mundo quando criança.
Acredito que estão a se perguntar e a rural do seu Zifi?
Logo confesso que tenho uma grande deficiência em escrever, falar sobre pessoas que para mim são caras – Ídolos, e o meu avô Zeferino Fidélis de Moura é um desses.
Cresci vendo, ouvindo, ações, gestos e atitudes – Que valem mais que mil palavras e, que me acompanham pelo caminhar da vida. Tá vendo a água de Anadia, o hospital, a primeira indústria a ser implantada em nossa cidade, a fazenda modelo pioneiramente implantada e, que cuidava do rebanho equino, bovino, caprino, suíno…
E o calçamento das principais ruas, o motor de energia – A luz, que iluminava as nossas noites e, que romanticamente tinha horário para acender e apagar. As festa culturais, São José, São João, São Pedro, Carnaval. Festa da Padroeira.
Os folguedos culturais, chegança, pastoril, reisado, guerreiro, baianas… Nenhum desse elementos da cultura do nosso povo eram desprezados ou desconsiderados, pelo contrário o incentivo era imperativo.
Ouço sempre nos dias atuais a vangloria de nossos políticos locais, celebrando seus feitos. Permitam-me fazer uma breve comparação com o seu Zifi Fidélis – Seus feitos, do veio Zifi, como vereador e prefeito, são inigualáveis, insuperáveis, mesmo constatando que hoje – Os atuais gestores, mesmo com advento de tantas ferramentas auxiliadoras e modernas, nada nos tem acrescentado, pelo contrário – Destruíram, acabaram.
Além de contar com a ajuda, das transferências governamentais, a disponibilização de recursos para projetos, o link direto com o governo federal.
E a pergunta continua, e a rural do seu Zifi?
O tema é palpitante, quando escrevo, falo sobre Anadia não consigo parar.
Usando uma metáfora posso afirmar com certeza que o meu querido avô nutria por mim um enorme carinho – Imagino, ele acreditava que eu era uma príncipe.
Inúmeras foram as vezes que me deliciava em ver seus animais de estimação, o boi gavião da raça guzerá – Campeão, premiado na exposição, e que ele garbosamente me colocava no lombo do boi, a passear pela praça Campelo de Almeida.
Sem título ou rótulo seu Zifi fez tudo com capricho, esmero e honestidade, apesar de seu cofre sempre está cheio de dinheiro, seus compromissos sempre em dia, nunca esnobou. Severo e austero com o erário, nunca misturou o pessoal com o público.
Bradava sempre: “Dinheiro não se junta, a não ser que seja do mesmo dono”.
A boiada que literalmente invadia as ruas da cidade, os tropeiros que de Minas Gerais traziam centenas de cavalos. E a pergunta que sempre vinha acompanhada da resposta. De quem são essas rezes? Do seu Zife.
O fino trato a lealdade com os amigos, a delicadeza com os pobre – Ouvindo seus clamores, nunca admitindo a violência nem mesmo por parte da polícia – Que à época, utilizava muito desse expediente.
O fato de possuir várias fazendas, trator de esteira, dois aero willys e a rural – Ser rico, nada o afastou do princípio básico da sabedoria, modesto, discreto, calmo, pacifico, atuante, e fez de com que suas atitudes tornarem-se manual de consulta a ser seguido.
Andar em sua rural era um deleite não só para mim quando criança, mas também para os que à época desfrutaram de confortável prazer.
E hoje, digo sem medo de errar, que a rural do seu Zifi se iguala as rurais do Zé Tores, Durval, Benedito Oião, Augusto, Generino… As feramentas das marcenarias do João Teia, Cordelho Jacó, João Eugênio. Ao fole e martelo do mestre Caboclo. A funilaria do seu Amarilho, a enxó do Odilon, as ferramentas da sapataria do seu Alcides.
As máquinas do telégrafo do seu Cordelho Maranhão, Nequinho, João Boião, Sebastião Palmeira. As Farmácias do seu Zeca Barbosa, Josias, Afrânio. As lojas do seu Zé Ribeiro, Joaci, Bita. Aos cartórios do seu João Sapucaia, Valdemar Oliveira. As mercearias do seu João Teixeira, Anacleto Teixeira, Pedro Bispo, João Alfaiate, os armazéns do seu Antônio Caetano, Antônio Fidélis…
Como também o clarinete do seu Dinamérico, as ferramentas de amaciar a sola, de enfeitar o couro, do mestre Nem, as chaves da carceragem do Sebastião Laurindo, os burros so seu Lucas usados para buscar a cachaça no engenho horizonte, o caminhão do seu Dada, o empreendorismo do Paulo Rodrigues e Darci.
Ah se tivéssemos a maquina de fotografia do seu Eurico Farias a eternizar a nossa memória!
As minhas escusas as pessoas que não foram citadas, o tempo em mim também já causa efeito – Tentar apagar da memória algo que nunca consigo esquecer.
Sem ser repetitivo ou querer auferir algo, apenas acrescento o fato de não ter citado nenhuma mulher, apenas acontece neste escrito pelo simples motivo de estar prestando uma singela homenagem ao meu Avô, do gênero masculino.
E aproveitando me amparei nas histórias de vida de alguns – Entre tantos, homens de bem da minha terra.
Carentes, empobrecidos, tristes e atônitos estamos a nós perguntar.
O que devemos fazer para termos de volta a Anadia de outrora?
Juro que tenho a resposta na ponta da língua, mas vou guardá-la para juntos encontrarmos o caminho.
E a rural do seu Zifi, era um deleite a se eternizar. " Arruma a mala aí, que a rural vai viajar."
(*) Ex-secretário de Estado e filho de Anadia