Avançar na carreira é uma tarefa árdua para qualquer um, mas para casais com a mesma profissão e que convivem no mesmo ambiente de trabalho, o caminho pode ser bem mais tortuoso.
É claro que tem um lado bom: marido e mulher tendem a se ajudar mutuamente, podem tirar proveito das redes de contato um do outro e entendem as demandas e pressões pelas quais o parceiro pode estar passando.
Mas esses pares também correm o risco de atravessar uma situação de competição, ou podem se ressentir quando só uma das partes recebe uma promoção ou quando uma oportunidade para um atrapalha o desenvolvimento do outro.
Se as diferenças não forem administradas com cuidado, é fácil levar os maus sentimentos para dentro de casa. Portanto, é fundamental encontrar um equilíbrio entre a conexão profissional e a competição.
Compreensão e confiança
Para Londa Schiebinger, professora da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e estudiosa de casais do mundo acadêmico, homens e mulheres com a mesma carreira gostam quando encontram um interlocutor “pelo resto da vida”.
“O parceiro da mesma profissão é alguém que conhece as demandas e os prazeres do trabalho. Mas também é comum um dos lados sentir que está sendo deixado para trás”, diz ela.
O casal de publicitários croatas Zuzana Galova e Peter Sedlacik tem uma agência na Austrália, onde vive. Segundo Galova, os dois agora entendem muito bem as necessidades profissionais um do outro e não reclamam quando um deles tem de fazer hora extra, por exemplo.
No entanto, às vezes um se sente culpado quando não está trabalhando tanto duro quanto o outro. Os dois também reclamam da falta de tempo para momentos sozinhos. “Ainda estamos tentando achar esse equilíbrio”, admite Galova.
Para muitos casais com a mesma profissão, uma das grandes vantagens é uma vasta rede de contatos. “Juntos, eles têm a força de duas redes profissionais de networking”, diz Schiebinger.
E há pessoas que gostam de poder desenvolver suas carreiras ao lado de quem confiam. É o caso de Christian Garcia, que abriu a Vero Patisserie, na Flórida (EUA), em sociedade com o namorado, Mark Edmonds.
Um cuida da preparação dos doces enquanto o outro se ocupa de receber clientes e tocar a parte administrativa do negócio. “Isso nos ajudou a ter uma visão bem mais abrangente de como estamos cuidando da empresa”, afirma Garcia.
Os truques dentro de casa
A advogada Jennifer Brunner, de Columbus, no Estado americano de Ohio, está casada há 35 anos com Rick, também advogado. Os dois aprenderam a adotar algumas regras para evitar que a carreira interfira no relacionamento.
“Evitamos falar sobre trabalho quando estamos em casa curtindo as horas de folga. É proibido conversar sobre o assunto antes de nos deitarmos e durante o café da manhã. E nunca – nunca – no quarto”, conta.
Como as pessoas passam uma boa parte do dia no trabalho, parceiros com carreiras parecidas podem sofrer de outro problema: poucas novidades e oportunidades de estímulo, segundo a americana Lisa Marie Bobby, fundadora da consultoria Growing Self Coaching, em Denver (EUA).
“Quando o homem e a mulher têm rotinas parecidas demais, o relacionamento tende a se estagnar muito rapidamente”, afirma Bobby, que atende clientes nos Estados Unidos e na Europa. “Isso torna esses casais mais vulneráveis a uma ‘fusão emocional’ – a experiência de se tornar muito dependente e sensível aos altos e baixos do parceiro”, explica.
Ela aconselha que cada pessoa encontre hobbies e atividades diferentes fora da profissão, algo que possa tornar as conversas e a dinâmica do casal mais estimulantes. Além disso, manter relacionamentos e interesses distintas ajuda cada parte do casal a manter um sentido de individualidade, que depois pode ser compartilhado com o parceiro.
Competição saudável
Casais com a mesma carreira podem colocar a situação a seu favor assegurando que exista um sentido de competição saudável com o outro. “Saber que o parceiro está realizando novas conquistas profissionais pode incentivar o outro a se dedicar mais a seu próprio trabalho”, diz Bobby.
Para manter a competição em um nível benéfico, em vez de adotar uma atitude de comparação, a especialista recomenda que cada indivíduo estabeleça metas pessoais e comemore suas próprias conquistas. “Pergunte a si mesmo: ‘como estou hoje em relação a seis meses atrás?’. Isso ajuda a evitar a comparação entre si mesmo e o parceiro, o que poderia causar ressentimentos”, afirma.
Para a professora Schiebinger, cujo marido, Robert Proctor, também é historiador em Stanford, existe uma camaradagem entre o casal que pode ser muito positiva. “Sempre comemoramos os sucessos um do outro. Quando algum de nós conquista algo, vemos como uma conquista de toda a família”, conta ela.
Jogando a toalha
Às vezes, ter a mesma carreira pode acabar sendo prejudicial ao relacionamento. Um dos problemas mais comuns surge quando a diferença de salários se acentua.
A consultora Bobby tem algumas dicas para evitar o ressentimento: “Imagine como você se sentiria se obtivesse as mesmas conquistas que o seu parceiro e use esse sentimento para expressar uma felicidade genuína. Em vez de ter inveja do salário do outro, aproveite essa informação em primeira mão para tentar negociar um aumento para você”.
Outra maneira de evitar uma competição mais direta, que pode provocar sentimentos negativos entre um casal, é ter uma das partes adotando uma especialização diferente.
“Mas nem todo o mundo está disposto a sacrificar suas carreiras”, diz Bobby. Brigas frequentes, competitividade extrema e mágoas podem ser sinais de que está na hora de uma mudança drástica, em casa ou no trabalho.