Desde a noite do último domingo (8), dia internacional de luta das mulheres, trabalhadoras rurais Sem Terra de diversas regiões de Alagoas ocupam a sede da superintendência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em Maceió. A ação compõe a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas de 2015, onde as mulheres fazem a denúncia ao modelo do agronegócio no campo brasileiro que ameaça o meio ambiente e a vida da população.
Com o lema “Mulheres em Luta: pela soberania alimentar, contra a violência e o agronegócio”, as camponesas em Alagoas denunciam o modelo devastador de produção da cana-de-açúcar e agora a intensificação da plantação de eucalipto no estado. “O modelo da cana, que tanto aprisionou nosso povo, concentrando terras, riqueza e destruindo o meio ambiente, não nos serve”, denunciou Débora Marcolino, da direção nacional do MST, que destaca: “também não queremos o eucalipto como alternativa à cana. Além de destruir ainda mais a natureza, não gera emprego nem renda para os trabalhadores e trabalhadoras”.
Com faixas, cartazes, palavras de ordem e ferramentas nas mãos, as Sem Terra fazem a defesa da agricultura camponesa, baseada em uma nova relação com os bens naturais para a produção de alimentos saudáveis e gerando alternativa de renda para quem vive nas áreas rurais. “Enquanto o Estado apoia e fortalece o modelo destruidor de agricultura que concentra terras e destrói a natureza, as mulheres Sem Terra seguem mobilizadas na defesa da Reforma Agrária, por entendermos que a distribuição de terras deve ser o primeiro passo na garantia da nossa soberania alimentar, com alimentos livres de veneno para todos”, disse Marcolino.
As camponesas denunciam a ausência de políticas públicas efetivas para dar condições de vida digna para quem vive no campo: educação, saúde, moradia, lazer, cultura. Para elas a violação desses direitos são formas de violência às mulheres e aos homens que vivem na zona rural. Ainda segundo Débora Marcolino, as trabalhadoras rurais sofrem diariamente com o descaso dos governos com a vida de quem vive nos acampamentos e assentamentos.
“Vivemos com a ausência de uma estrutura adequada para a educação e lazer dos nossos filhos, ausência de um posto de saúde, com as péssimas condições das estradas que dão acesso às nossas áreas, além da limitação de créditos que possam ajudar na renda e na autonomia de nós agricultoras”, relatou.
Agrotóxicos
“As mulheres Sem Terra de todo o Brasil estão em luta na defesa de um novo modelo de agricultura para o nosso país e aqui em nosso estado, terra historicamente marcada pelo latifúndio canavieiro, nossa luta não poderia ser diferente. Sentimos na pele as contradições colocadas pela indústria da cana que explora trabalhadores e trabalhadoras e não leva alimentos para a mesa do nosso povo”, afirmou Débora Nunes da coordenação do MST.
Denunciando também o uso de veneno pelo agronegócio, Nunes destaca que as mulheres camponesas são diretamente afetadas com o uso de agrotóxicos e por isso essa é uma bandeira que as Sem Terra devem levantar permanentemente.
“Somos hoje o principal consumidor de agrotóxicos do mundo e cabe a nós, mulheres Sem Terra, levantar e fazer esse debate com o conjunto da sociedade por entendermos que assim como nós somos afetadas nas áreas rurais com a utilização de veneno, quem vive nos centros urbanos também é tocado diretamente quando come um alimento envenenado. E é também para fazer esse debate com o povo maceioense que hoje estamos aqui”, afirmou Débora Nunes.
Violência contra as mulheres
Também presente nas falas e palavras de ordem das agricultoras, está o debate sobre a violência, bandeira que também compõe o lema da Jornada de Lutas de 2015. Para Margarida da Silva, da direção estadual do MST em Alagoas, essa é também uma pauta fundamental para a luta das Sem Terra no estado, “vivemos em um estado que está entre os primeiros lugares que tem o maior registro de violência contra as mulheres. Seja no campo ou na cidade nós não poderemos admitir isso”, disse.
Segundo as trabalhadoras rurais, o acesso aos locais de denúncia aos casos de violência são muito mais difíceis para quem vive no campo. “Nós não podemos lutar contra o modelo opressor do agronegócio e deixar que as nossas mulheres sejam oprimidas em outros espaços, por isso essa é uma luta permanente no nosso movimento, na luta pela emancipação de homens e mulheres”, concluiu a dirigente.