O dólar fechou com alta de 2,5 por cento e bateu em 3,30 reais pela primeira vez em quase 12 anos nesta quinta-feira, acompanhando a recuperação da moeda norte-americana no exterior após o recuo da sessão passada e refletindo as renovadas preocupações com a crise local na base governista.
A moeda dos EUA avançou 2,56 por cento, a 3,2965 reais na venda, maior nível de fechamento desde 1º de maio de 2003, quando fechou a 3,315 reais na venda. A divisa havia fechado em queda na véspera pelo terceiro dia seguido reagindo ao tom de cautela adotado pelo Federal Reserve em seu comunicado de política monetária.
Segundo dados da BM&FBovespa, o giro financeiro ficou em torno de 1,3 bilhão de dólares.
Na máxima da sessão, maior nível intradia também desde 1º de maio de 2003, o dólar atingiu 3,3084 reais, após a presidente Dilma Rousseff negar que realizará uma reforma ministerial. Segundo o operador de câmbio de um importante banco nacional, a declaração frustrou a expectativa de que mudanças no Executivo poderiam atenuar a rebeldia no Congresso.
Os atritos entre o governo e seus aliados no Congresso podem dificultar ainda mais o ajuste fiscal. Na quarta-feira, Cid Gomes pediu demissão do cargo de ministro da Educação depois de uma sessão tumultuada na Câmara dos Deputados, para evitar que a já complicada relação do governo com a base aliada se tornasse ainda pior.
“O custo político de fazer o ajuste (fiscal) está cada vez mais alto e o mercado não gosta disso”, disse o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira.
Além disso, o euro caiu mais de 2 por cento contra o dólar nesta tarde, após mostrar na véspera o maior avanço desde março de 2009. O movimento da sessão passada aconteceu após o Fed reduzir suas projeções de crescimento, inflação e juros, alimentando apostas de que os juros norte-americanos continuarão quase zerados até o segundo semestre.
“O rali de moedas emergentes após a conclusão da reunião do Fed de ontem se provou pouco duradouro”, escreveram analistas da Capital Economics em nota a clientes.
Outro fator de incerteza no mercado doméstico é a dúvida sobre o futuro do programa de atuações diárias do Banco Central, marcado para durar até o fim deste mês. Muitos operadores acreditam que o governo vem sinalizado que deixará de ofertar swaps cambiais diariamente, apesar da volatilidade recente.
“Parece que as autoridades estão prontas para permitir que o programa termine, já que o plano anti-inflação agora depende mais da política de juros e de melhorar o resultado primário”, escreveram estrategistas do Bank of America Merrill Lynch em relatório.
“O BC ainda administraria um estoque de 115 bilhões de dólares em swaps cambiais calibrando as rolagens de acordo com as condições no mercado. Nosso cenário-base é que o BC rolará 100 por cento dos swaps a vencer por ora”, acrescentaram.
O BofAML acrescentou que o mercado brasileiro de câmbio deve ser guiado principalmente por fatores domésticos. Segundo as contas do banco, o real está entre as moedas latinoamericanas que têm se mostrado menos sensíveis aos mercados internacionais.
Nesta manhã, o BC brasileiro deu continuidade às rações diárias vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais, que equivalem a 97,4 milhões de dólares. Foram vendidos 250 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.750 para 1º de março de 2016.
A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, rolou cerca de metade do lote total, que corresponde a 9,964 bilhões de dólares.