A diretoria da Petrobras apresentará, nesta quarta-feira (22), após as 18h, as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014, revisadas pelos auditores independentes, e também as demonstrações contábeis auditadas relativas exercício de 2014.
Os dados serão analisados pelo Conselho de Administração da companhia e, em seguida, apresentados à imprensa.
A publicação dos dois resultados está atrasada devido às investigações da Operação Lava Jato sobre o esquema de corrupção envolvendo a estatal. Os números que serão apresentados devem conter as perdas referentes aos desvios.
A empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) se recusou a assinar o balanço da Petrobras do segundo semestre do ano passado, depois que a Operação Lava Jato revelou a escala do esquema de corrupção que envolvia o superfaturamento de projetos da empresa.
Um dos principais problemas é que a Petrobras ainda não conseguiu calcular como esse esquema afetou seu patrimônio. A metodologia para fazer esse cálculo precisa atender às exigências de órgãos reguladores não só do Brasil (CVM), mas também dos Estados Unidos (SEC), onde papéis da empresa são negociados.
Em janeiro, após adiar a publicação do balanço duas vezes, a Petrobras divulgou um resultado não auditado para o terceiro trimestre e uma estimativa preliminar de que seus ativos estariam superestimados em R$ 88 bilhões.
A conta, porém, não distinguia quanto desses recursos teriam sido desviados e quanto diriam respeito a problemas na execução de projetos e mudanças no câmbio.
Para alguns analistas, o valor muito alto e a forma como a estimativa foi divulgada teriam tornado insustentável a posição da então presidente da empresa, Maria das Graças Foster, que foi substituída pelo ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine.
Mais um passo na ‘reconstrução’ da empresa
Nesta segunda-feira (20), em Nova York (Estados Unidos), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que a apresentação do balanço da Petrobras será “mais um passo” na reconstrução da empresa.
“Há expectativa de que, em alguns dias, eles [Petrobras] irão superar a questão do balanço auditado. A expectativa é de que eles conseguirão publicar o balanço auditado e que será muito bom”, disse o ministro na ocasião.
Segundo ele, há expectativas em relação a uma renovação do Conselho de Administração da Petrobras com mais profissionais do mercado em detrimento de indicações políticas.
O ministro acrescentou ainda que investidores estão nervosos com a transparência no Brasil após a crise na estatal, mas defendeu que mudanças positivas de governança estão acontecendo na companhia e que ele tem confiança na estatal.
Importância da divulgação
Sem resultados auditados, fica difícil para a empresa captar recursos e atrair investidores.
Parte dos seus credores também pode pedir o vencimento antecipado de suas dívidas se a publicação do balanço for novamente adiada, o que, segundo analistas, poderia levar a empresa à insolvência e exigir uma operação de injeção de capital pelo governo.
Wilber Colmerauer, diretor da consultoria Emerging Markets Funding, com sede em Londres, explica que esses demonstrativos financeiros servem de base para que investidores analisem a saúde financeira e as perspectivas da empresa. Sem eles, investir na Petrobras seria dar um tiro no escuro.
“O balanço vai permitir que o mercado e a própria Petrobras estimem o desafio que a empresa tem pela frente”, avaliou Colmerauer. “Fazer o cálculo do estrago o mais rápido possível é essencial para que a companhia deixe esse escândalo de corrupção de lado e se concentre nos seus projetos de exploração. A Lava Jato é assunto da polícia.”
Para Paulo Paiva, professor da Fundação Dom Cabral, o balanço de 2014 pode ser “um marco” para a Petrobras. “Ele pode começar a virar a página dessa situação de falta de transparência e má gestão na empresa. Por isso, as ações da Petrobras estão subindo na expectativa de sua divulgação.”