O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criticou neste sábado (2) declarações recentes do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que disse que o PMDB não pode transformar a coordenação política em uma “articulação de RH para distribuir cargos e boquinhas”.
Neste sábado, Eduardo Cunha participou de um encontro com representantes do setor do agronegócio em Uberaba (MG). Após o encontro, Cunha concedeu entrevista coletiva a jornalistas.
Cunha afirmou aos jornalistas que as críticas de Renan ao partido e ao fato de o vice-presidente da República, Michel Temer – que é o presidente nacional do PMDB –, ter passado a centralizar a distribuição de cargos no segundo escalão do governo Dilma Rousseff, são parte de um debate político, mas que a declaração sobre a atuação de Temer é uma “crítica incorreta.”
Novo responsável pela articulação política do governo, Temer tem discutido com os partidos que compõem a base aliada ao Planalto no Congresso Nacional o preenchimento de cargos do chamado “segundo escalão” (presidências de autarquias, direções de departamentos vinculados aos ministérios e empresas estatais).
“O que está acontecendo é um debate político, divergências explicitadas pelo presidente do Senado, algumas das quais eu discordo. Acho que a crítica feita ao vice-presidente Michel [Temer] é uma critica incorreta, até porque ele [Renan] participou do processo, com comunicação prévia de que o vice-presidente ia ser o coordenador político do governo”, disse Cunha.
“Então quando o presidente o Senado faz críticas a isso ele tem que dizer as motivações para as críticas dele. E se ele tem problemas internos no PMDB, ele deve debater dentro do partido. Fora disso, cada um tem o direito a ter sua opinião. Eu respeito a opinião dele, como tenho uma opinião diferente”, completou.
Na quinta, após as declarações de Renan Calheiros, Temer divulgou nota na qual afirmou que o Brasil precisa de ‘políticos à altura dos desafios’ do país e que respeito institucional é a “essência da atividade política”. O G1 perguntou à assessoria da Vice-Presidência se, na nota, Temer se referia às declarações de Renan. A assessoria de Temer informou na ocasião que a nota é “autoexplicativa”.
Cunha minimizou, porém, as divergências políticas dentro do PMDB e disse ser “natural” que um partido tenha diferenças de opinião. O presidente da Câmara aproveitou para criticar o PT ao afirmar que o partido tem “15 correntes” internas de pensamento.
“O nome já diz que é partido. Se fosse uniforme, seria inteiro. [O PMDB] tem divergências, elas podem e devem existir, é natural do debate. O PT, por exemplo, ele não tem 15 correntes? É ‘Construindo um novo Brasil’, é não sei o que. O PMDB pode ter suas divergências eventuais, mas o PMDB não tem correntes”, ressaltou.
Questionado, então, sobre se sentaria em uma mesa para tomar um café e comer um pão de queijo ao lado de Temer, Renan e do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), Eduardo Cunha respondeu: “por que não?”. O deputado Marcos Montes, que estava ao lado de Cunha brincou e disse: “depende do pão de queijo”. Rindo, o presidente da Câmara entrou na brincadeira de Montes e completou: “espero que esteja quente, o pão de queijo”.
Ajuste fiscal
Cunha também comentou declarações de Renan Calheiros sobre o ajuste fiscal defendido pelo governo federal para reequilibrar as contas públicas. Renan tem criticado a qualidade do ajuste e chegou a declarar que as propostas do governo Dilma de ajuste fiscal são, na verdade, “ajuste trabalhista”. O presidente do Senado, inclusive, disse que a Casa seria “fiscal” do ajuste.
“Nem ele nem eu temos esse direito a esse papel. O meu papel, como presidente da Câmara, eu vou colocar o ajuste em votação na próxima semana. […] É papel do governo ter a sua base para construir a sua maioria. Quando chegar no Senado, ele [Renan] tem que fazer esse mesmo papel. Ele pode até ter opinião pessoal”, afirmou Cunha.
“Eu não conheço o regimento do Senado. No regimento da Câmara, eu nem voto, nem o meu direito de voto eu tenho, pelo fato de eu ser o condutor da votação. Provavelmente, ele, no Senado, nem vote. Então é preciso que o governo tenha a sua maioria na Câmara e no Senado para poder voltar a matéria. O resto é opinião pessoal”, ressaltou.
‘Crise’ do presidencialismo
Durante a entrevista, Cunha também disse que o Brasil vive uma “crise do chamado presidencialismo”. Segundo o peemedebista, a presidente Dilma Rousseff sofreu uma “queda de popularidade” porque adota medidas diferentes do que havia sido debatido na campanha eleitoral.
A declaração foi dada enquanto Cunha respondia uma pergunta sobre a possibilidade de impeachment da presidente Dilma, tese que ele rejeitou.
“O que vivemos é uma crise do chamado presidencialismo. Se vivêssemos um sistema parlamentarista, a solução seria outra. Mas como foi a opção do brasileiro que escolheu presidencialismo, nós estamos vivendo esse tipo de crise. Todos os governantes que estão com crise de popularidade, alguns momentaneamente outros por mais tempo, acabam sofrendo”, disse o presidente da Câmara.
“O que está acontecendo com a presidente é que ela sofreu uma queda de popularidade em função de praticar, de fazer ações de governo, diferentes do que havia sido debatido na campanha eleitoral. O mesmo se passou com o Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente da República] em 1998 que sofreu muito no seu mandato”, continuou.
Para Cunha, é preciso que os eleitores prestem “bem atenção” no momento eleitoral para eleger aqueles políticos que “interpretem como sendo o melhor para o seu pensamento.”
“Pois sabem que se errar no voto na concepção, vai demorar quatro anos para corrigir. Fora isso [o impeachment] é golpe”, concluiu o peemedebista.
‘Menos, menos’
Mais cedo, ao chegar ao evento em Uberaba, Eduardo Cunha desconversou sobre a possibilidade de se tornar candidato à Presidência da República no futuro. Desafeto de Dilma, o peemedebista tem imposto derrotas ao governo desde que assumiu o comando da Câmara.
Cunha chegou ao local acompanhado do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Marcos Montes (PSD/MG). Montes foi indagado por um jornalista sobre a possibilidade de um dia Eduardo Cunha ser presidente da República.
“Marcos Montes, quando eu vejo o Eduardo Cunha falar, parece que vejo: ‘será que vou ver esse homem presidente da República lá na frente’?”, questionou um repórter. Antes de o deputado responder, Cunha intercedeu e respondeu em tom de brincadeira: “menos, menos.”