Afoxé celebra 15 anos
Saberes transmitidos de pai para filho, geração após geração, culminam em tradições capazes de resistir ao tempo e ao preconceito para finalmente se firmar na nomenclatura afro-brasileiro. É pegando carona na história e na importância da presença negra no Brasil que os afoxés se destacam entre as heranças africanas.
Frutos da miscigenação que tanto caracteriza a cultura e o povo brasileiros são exemplos legítimos da força e da capacidade de sobrevivência da cultura africana. Em Alagoas, o Afoxé Odô Iyá se destaca no reconhecimento dessas tradições e celebra 15 anos de atuação com o espetáculo IGBAXÉ – O SEGREDO DA NOSSA FORÇA. A produção será encenada ao público no dia 26 de maio, às 19 horas, no Teatro Deodoro, no Centro de Maceió.
A celebração não para por aí. A história do Odô Iyá está sendo contada também em vídeo documentário, com registros únicos e emocionados dos integrantes do grupo, bem como depoimentos de seus idealizadores. O documentário dirigido pelo jornalista e produtor cultural Keyler Simões, será lançado em junho próximo e será exibido em rodas de diálogo com outros grupos culturais alagoanos e Pontos de Cultura.
O espetáculo IGBAXÉ foi contemplado com o Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-Brasileiras, na categoria dança, em 2014. O Prêmio está em sua terceira edição e é promovido pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos Neves (CADON), com patrocínio da Petrobras em parceria com a Fundação Palmares. Nessa edição, 405 projetos foram inscritos e concorreram nas categorias Música, Teatro, Dança e Artes Visuais.
IGBAXÉ – O SEGREDO DA NOSSA FORÇA conta ainda com o apoio do Sesc Alagoas, da Fundação Municipal de Ação Cultura (FMAC) e da Diretoria de Teatros de Alagoas (Diteal).
O segredo
Em IGBAXÉ os jovens integrantes do Odô Iyá revelam os segredos da força dos afoxés utilizando a cabaça – no dialeto yorubá: igbá – como símbolo da resistência e dos conhecimentos transmitidos geração após geração. Na tradição afro-brasileira, o igbá carrega consigo simbologias e significados importantes e por isso é passada de pai para filho.
O espetáculo busca desnudar as matrizes africanas a partir de um olhar poético para as suas fontes de força. Céu e terra se encontram nos elementos fogo, terra, água e ar, todos homenageados e cantados em canções autorais e reconfigurações de cantos típicos yorubás.
A apresentação conta com a participação do nigeriano radicado em Porto Alegre, Ìdòwú Akínrúlí, o Akin, vencedor do Prêmio na categoria música, e do cantor Igbonan Rocha.
PROJETO IGBAXÉ
Segundo coordenador e diretor artístico do espetáculo, Amaurício de Jesus, a presença de Akin no espetáculo vem confirmar que a relação entre os povos, bem como suas tradições, não se perderam. “Pelo contrário, são capazes de dialogar, mesmo feitas à distância”, diz.
Outra participação muito especial para o grupo vem de perto, de quem sonhou e acreditou que a cultura pode ser porta voz contra a intolerância e o preconceito. Pai Célio Rodrigues, coordenador do grupo e babalorixá responsável pela Casa de Iemanjá – instituição mantenedora do projeto, explica que quando idealizou a as atividades culturais buscou desmistificar os preconceitos que há tempos perseguem a religiosidade de matriz africana. “O afoxé é hoje nosso interlocutor, nosso canal de luta contra a intolerância e a violência”, revela.
Segundo Pai Célio, a participação no grupo não está restrita aos jovens integrantes de comunidades de terreiro, mas a todos os que se identificam com a cultura afro-brasileira. “Acreditamos que o jovem conhecedor das nossas tradições será um adulto capaz de conviver com as diferenças e de dizer não ao preconceito”, acredita o religioso.
Transformação social
Para o coordenador artístico do Odô Iyá, Amaurício de Jesus, o conhecimento das origens e saberes ancestrais do povo negro colaboram para o reconhecimento da beleza e da estética negra proporcionando uma auto estima muitas vezes inédita na vida dos jovens. “Alguns integrantes chegaram no grupo aos seis anos de idade e hoje jovens e conhecedores de sua própria identidade, são motivo de orgulho para nós”, afirma.
Amaurício de Jesus destaca que o objetivo do afoxé não é formar artistas, mas contribuir para a formação de cidadãos conhecedores de seus direitos e de sua identidade. “No Odô Iyá não fazemos apenas música ou dança, buscamos a formação de pessoas e testemunhamos transformações na vida de cada um desses meninos”, diz.
Murilo Nascimento é um desses jovens que tiveram um novo olhar desperto a partir das ações do grupo de afoxé. “Estou a dez anos no Odô Iyá. Foi aqui que descobri meu talento para a dança e aprendi principalmente a respeitar o próximo. O afoxé também me mostrou a arte como opção de crescimento profissional; hoje colaboro com a criação de coreografias, figurinos e acessórios não só para o Odô Iyá, mas para outros grupos”, conta.
O nigeriano radicado em Porto Alegre, Ìdòwú Akínrúlí, o Akin, vencedor do Prêmio na categoria música inicia sua participação nas celebrações do Afoxé Odô Iyá logo no dia 24 de maio, quando realizará duas oficinas abertas ao público, na Rua Fechada, na Ponta Verde.
A primeira oficina terá foco na música e oferecerá formação em percussão, a partir das 10h; já o segundo momento de oficina será focado em atividades de dança e acontecerá a partir das 15h. Para participar das atividades, basta reservar uma vaga pelo telefone 8832-6157.
PROJETO IGBAXÉ
SERVIÇO
DIA 24 DE MAIO – OFICINAS
PERCUSSÃO, 10 HORAS
DANÇA, 15 HORAS
RUA FECHADA, PONTA VERDE
INSCRIÇÕES GRATUITAS PELO TELEFONE 8832-6157
DIA 26 DE MAIO – ESPETÁCULO IGBAXÉ – O SEGREDO DA NOSSA FORÇA
19 HORAS
TEATRO DEODORO, CENTRO
ENTRADA GRATUITA
MAIS INFORMAÇÕES PELO TELEFONE 8819-5850
