Com o desafio de se desfazer de uma coisa por dia, a brasiliense Jéssica Behrens teve a ideia de criar um “Tinder para produtos”, que possibilitasse a venda, troca ou doação de pertences. A jovem de 23 anos idealizou o aplicativo junto com um amigo, que a apresentou a um estudante de Harvard. Em uma semana, os dois fizeram um plano de negócios e a ideia foi aceita pelo Laboratório de Inovação da universidade americana.
O tradr funciona aos moldes do Tinder, um conhecido aplicativo de paquera on-line. Assim como o Tinder, o programa é 100% integrado com o Facebook, tem modo de navegação semelhante, e permite que os produtos sejam visualizados por geolocalização.
O app foi lançado no Brasil no final de junho na versão beta. Ele é gratuito e inicialmente está disponível para o sistema iOS. Interessados em baixar o app tem que acessar o site do tradr. Até 21 de julho, o aplicativo tinha 1,1 mil usuários e mais de cem produtos à venda.
Desde fevereiro, a co-fundadora e o CEO do programa, o estudante de economia comportamental de Harvard Zaki Djemal, vêm desenvolvendo o tradr. Além deles, o aplicativo tem outros nove sócios de vários países.
“O meu lado é o do consumidor que tinha problemas, da pessoa que quer se conectar com outros através das coisas para comprar, vender ou trocar coisas. Já o do Zaki era como fazer os processos de decisão de compra serem simples, intuitivos. Ele já pensou no framework binário, que faz a pessoa tomar uma decisão simples de sim ou não”, explica Jéssica.
“Nisso a gente consegue ver do que a pessoa gosta e do que ela não gosta, a partir do processo de decisão você consegue gerar referências para ela baseado nisso, você consegue conectar ela com a rede social dela através de uma coisa extremamente personalizada e isso tem potencial inovador.”
Jéssica afirma que o aplicativo é uma proposta de mudança comportamental nos hábitos de consumo. “É fazer os bens ociosos que todo mundo tem girar na economia. Você ganha uma grana, a pessoa compra mais barato, porque é usado, e nisso você gira uma economia que está ociosa”, disse. “É uma plataforma de venda poderosa. Você permite que elas façam comércio pelo celular. É uma tendência cada vez maior. No Brasil não é tanto, nos EUA esta super em alta e na Coreia do Sul 60% das pessoas só compram pelo celular.”
O estudante Caio Cormier, de 22 anos, baixou o aplicativo no celular há duas semanas. Ele colocou cerca de 15 objetos à venda, entre livros, roupas, instrumentos e sapatos, e já havia conseguido vender três dos pertences até a semana passada. Entre os produtos à venda estão uma guitarra e um saxofone – por R$ 900 e R$ 800, respectivamente. Cormier também aproveitou o programa para comprar um tênis por R$ 5.
“Eu tinha algumas coisas para vender em casa, estava no fundo da gaveta há um tempo, então resolvi baixar o aplicativo. O que me chamou a atenção foi esse esquema de ser meio o tinder de objetos. É genial porque você vai julgando se gosta ou não e tem um canal de comunicação direta com o vendedor”, afirma. “Eu não preciso fazer um evento ou ir a um brechó e levar todas as minhas coisas. Eu simplesmente coloco os pertences no aplicativo e as pessoas vão ver como se fosse um garage sale. É uma mão na roda.”
Para o CEO do aplicativo, o diferencial do tradr é que ele consegue identificar os gostos do usuário em tempo real. “A curadoria está se tornando cada vez mais importante no espaço do consumidor, com empresas como Pinterest, Pandora e Netflix, todas tentando descobrir como mostrar às pessoas o que elas querem”, disse Djemal. “Por que isso não seria diferente com os bens usados e com a indústria criativa? Métodos eficazes de curadoria certamente irão desempenhar um papel determinante em um futuro próximo, e o tradr está liderando este caminho.”
A gerente de marketing Gabrielle Lobo, de 21 anos, ressalta que a ideia não é só a venda de produtos usados, mas principalmente o estímulo a pequenos e microempresários. “Às vezes a pessoa faz um caderninho, só que não tem dinheiro para pagar um marketing ou divulgar na internet. Ela entra no aplicativo, tira a foto do produto coloca lá e alguém vai aparecer e conversar diretamente com ela”, explica.
“Queremos estimular o consumo local das coisas que estão ao nosso redor. Tem muita coisa legal acontecendo e a gente simplesmente não sabe porque não tem um espaço legal que a gente encontra tudo isso.”