Dora foi sequestrada na noite de quarta-feira (12) em sua casa, na Portelinha, por pelo menos cinco homens. Nesse mesmo dia, em Brasília, mulheres de todo o País participavam da Marcha das Margaridas, evento que marca o Dia Nacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras Rurais Contra a Violência no Campo e por Reforma Agrária. Data que marca também os 32 anos do assassinato da líder sindical Margarida Maria Alves.
Dora, desde que assumiu a liderança, denunciava a venda ilegal de terras na comunidade. Essa comercialização, conforme denúncias dela e de moradores da região, era realizada por Adson Dias Silva, conhecido como “Pinguelão”, que é apontado como principal suspeito de mandar sequestrar e executar a vítima.
O corpo da trabalhadora foi encontrado ontem (13) com marcas de violência e com pelo menos 12 tiros, segundo informações preliminares da Polícia Civil do estado. Peritos do Instituto Médico Legal (IML) disseram que, além das marcas de tiros, o corpo dela apresentava diversos sinais de que foi torturada antes de ser morta.
Durante o sequestro de Dora, o professor e marido da líder, Gerson Priante, também foi agredido pelos invasores. Gerson afirmou que pelo menos uns 20 boletins de ocorrência estão registrados na Delegacia de Iranduba contra “Pinguelão”. Para ele, não há dúvida que o assassinato de sua mulher foi motivado pelo interesse do suspeito em continuar vendendo terras da comunidade. “As ameaças contra a vítima já duravam pelo menos uns quatro anos”, contou Gerson.
Moradores da comunidade Portelinha disseram que Dora já havia denunciado a situação de venda ilegal de terras na Assembleia Legislativa do Amazonas e em emissoras de televisão. Há pelo menos dois anos, quando sofreu agressão na comunidade, procurou a Secretaria de Segurança Pública e mostrou um vídeo em que “Pinguelão” aparecia como suspeito.
Ela também já teria procurado a Polícia Federal para relatar os problemas que vinha enfrentando porque as terras são da União, do programa “Terra Legal”, logo o suspeito estava cometendo crime federal.
De acordo com uma amiga da vítima, dona Dora há muito tempo vinha sendo ameaçada por “Pinguelão”. “Esse atrito com Dora começou desde quando ela foi escolhida para ser líder da comunidade. Ela combatia a venda ilegal de lotes de terras da Portelinha, que era o que ‘Pinguelão’ fazia aqui. Já houve casos anteriores de agressão e ameaças por parte dele contra a Dora. Mas, ela não desistia nunca”, disse a mulher, que pediu para não ser identificada.
Em entrevista a jornais do Amazonas, o deputado José Ricardo Wendling (PT) contou que a líder rural e outros moradores da comunidade já haviam denunciando perseguições e ameaças. Além disso, haviam pedido de todos os órgãos competentes reforço na segurança da comunidade. Ainda segundo o parlamentar, Dora tinha pedido proteção policial, mas não conseguiu.
“Esse tal de ‘Pinguelão’, que não tem nada a ver com a comunidade, vinha vendendo os mesmos lotes da comunidade para várias pessoas. Quando a Dora assumiu a liderança da comunidade, ela começou a combater e bater de frente com ele. Foi quando começaram as ameaças”, relatou outro morador da Portelinha.
Há menos de um mês, uma operação da Polícia Civil e da Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (Seai) tentou prender “Pinguelão” justamente por denúncias de venda ilegal de terras, ameaça, porte ilegal de armas de fogo e tráfico de drogas.
Os policiais tinham em mãos cinco mandados de busca e apreensão determinados pela Vara Criminal da Justiça de Iranduba e o alvo principal era a casa de Adson Dias da Silva, o “Pinguelão”. Só que ele não foi encontrado. Na casa foram apreendidos diversos documentos de vendas de lotes de terras e simulacros de arma de fogo. Nas casas de seu pai e de um irmão, que foram presos, foram encontradas diversas armas, munições e até colete balístico.