Operários são encontrados trabalhando em condições análogas à de escravidão em uma obra de um megaevento esportivo.
Nos últimos anos, nos acostumamos a associar a situação acima à Copa do Qatar-2022, onde milhares de imigrantes já morreram por conta do trabalho extenuante e em péssimas condições. Mas dessa vez, a má notícia vem de um lugar bem mais próximo: Rio de Janeiro, sede da Olimpíada de 2016.
Foi lá que o MPT-RJ (Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro) e o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) encontraram 11 operários trabalhando em situação semelhante à de escravidão em obras do condomínio que será usado como Vila dos Atletas durante os Jogos.
Os trabalhadores saíram de Maranhão, Paraíba, Bahia e Espírito Santo e trabalhavam para a Brasil Global Serviços, contratada pelas construtoras Odebrecht e Queroz Galvão.
Segundo a procuradora responsável pela investigação, Valéria Correa, eles saíram de seus estados com a promessa de receber alojamento, alimentação e reembolso da passagem. Foram encontrados vivendo em uma casa e duas quitinetes, na comunidade Beira Rio, sem estrutura mínima e condições de higiene, vivendo em meio a ratos, baratas e esgoto. Alguns dormiam foram das casas por conta da sujeira.
A empresa pagou R$ 70 mil em rescisões e vai alojar os trabalhadores em um hotel, além de reembolsar as passagens de ida para o Rio e pagar pelas de retorno. O MPT-RJ entrará com ação para pedir pagamento por danos morais aos trabalhadores.
A notícia é mais uma mancha na organização dos Jogos, que já teve famílias removidas de suas comunidades com ações truculentas, quebra de promessa da despoluição da baía de Guanabara e deve ver nos próximos dias um aumento nos gastos.
Ao UOL, o comitê organizador da Rio-2016 disse que não faria comentários específicos, mas disse repudiar qualquer tipo de trabalho desse tipo.
É pouco. A indignação tem que ser de todos os envolvidos, Rio-2016, COI, prefeitura, atletas. Devem exigir que as obras olímpicas sejam feitas dentro da lei. Não dizem que a Olimpíada é uma ferramenta de transformação? Que seja de fato.
O mundo grita contra a Copa no Qatar, e descobrimos que problemas da mesma natureza estão acontecendo no Brasil. O comitê Rio-2016 vai gastar R$ 254,9 milhões no aluguel dos prédios da Vila -que será explorada depois por quem a construiu- para receber os atletas. A previsão inicial era de R$ 45,8 milhões. Enquanto isso, trabalhadores têm seus direitos básicos desrespeitados, e a Olimpíada, sua imagem manchada.