“Os presos têm celular da mesma forma que qualquer pessoa tem na rua”. A acusação vem de um agente penitenciário de Pernambuco que não quis se identificar em entrevista ao NETV 1ª Edição desta sexta-feira (16). O comentário foi feito depois que Paulo Henrique Serpa, detento do Presídio de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, postou fotos de lagosta e uísque no Facebook. Ele cumpre pena por tráfico de drogas e homicídio no local, que tem capacidade para 426 detentos e atualmente abriga 3.797.
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O agente explicou que quando os bloqueadores de sinal funcionavam, o uso de celular diminuiu. “Hoje que eles tiraram os bloqueadores, os presos fazem plano de internet 3G ou 4G e alugam a senha pra que outros possam ter acesso”, detalha. Com isso, as atualizações da página da rede social são garantidas.
A Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), responsável pela administração dos presídios em Pernambuco, alegou que foi feita a compra de bloqueadores de celular, mas que eles foram devolvidos pelo estado porque não funcionavam da maneira esperada.
Na postagem de Paulo Henrique Serpa, ou PH, como é conhecido, aparecem na cela televisão e equipamento de som. Além de latas de cerveja, de cachaça, garrafas de uísque, pratos de camarão e lagosta. A Seres explicou que cada cela pode ter uma TV e um som porque isso está previsto no Código Penitenciário de Pernambuco, mas afirma que não admite regalias dentro das unidades prisionais do estado e que foi aberta uma sindicância pra apurar os fatos.
O agente penitenciário disse que os equipamentos de som e TV são autorizados pela direção, mas ficam na cadeia caso o preso seja transferido. “É regra da cadeia. Só leva [ao sair] uma mochila pequena, um colchonete e o que estiver no corpo. Se acontecer do estado transferir, ele vai se dar bem de novo em outra cadeia porque para chegar lá e vai ter dinheiro. Vai vender cordão de ouro, relógio de ouro, tênis caro”, exemplifica.
A Secretaria também disse que tem intensificado a fiscalização na entrada dos presídios pra evitar celulares, armas e outros objetos proibidos. E que as vistorias e ações de inteligência têm sido feitas periodicamente e intensificadas com o uso de câmeras de segurança, equipamentos de raio x e detectores de metais.
Um representante da Superintendência de Segurança Prisional esteve no presídio de Igarassu na quinta-feira (15) para ouvir Paulo Henrique Serpa. O representante disse que o preso falou que as fotos são de 2013. De acordo com a Secretaria, Paulo Henrique vai ter que responder ao conselho de disciplina do sistema penitenciário.
Entenda o caso
Paulo Henrique Serpa, conhecido como “PH”, é o chaveiro do Pavilhão D, cuidando da abertura e fechamento das celas. Nas redes sociais, ele exibe as regalias que afirma ter. Na foto em que aparecem uma TV e um equipamento de som, ele diz que “manda” no lugar e chama a própria cela de “suíte VIP”. A página era atualizada diariamente, mas foi tirada do ar no fim da tarde de quinta e ele foi afastado da função de “chaveiro”.
No Facebook, o preso anunciou que, no domingo, que é dia de visitas, “a festa está garantida”. PH afirma ainda que quem manda no presídio são os chaveiros. Em uma foto em que aparece um prato de frutos do mar, o detento ironiza os agentes penitenciários, que “comem a boia”.
As fotos na rede social exibem ainda correntes supostamente muito valiosas. Segundo um agente penitenciário, que prefere não se identificar, o objeto deve ser de ouro, pois os presos ricos fazem questão de manter com eles objetos assim. “Eles ficam ricos dentro da cadeia, comandam o tráfico, cobram taxa de limpeza. Na verdade, é uma taxa de sobrevivência dentro do presídio”, explica o agente.