Após vários meses de poucas chuvas na Grande São Paulo, os moradores da região vão reaprendendo aos poucos a andar com o guarda-chuva na mochila. Somente nos primeiros nove dias de novembro, choveu na capital paulista o equivalente a 91% da média prevista para todo o mês.
E com tanta água vindo do céu, era de se esperar que uma hora a crise hídrica que assola o Estado desse uma trégua. E deu: as represas do sistema Cantareira operam hoje com pouco mais de 17% de sua capacidade de armazenamento, índice 50% acima do registrado no mesmo mês de 2014.
Mas essa falsa percepção de que a crise hídrica já passou tem feito os condomínios da Grande SP deixarem de investir em soluções para reduzir o consumo.
De acordo com o diretor da Associação das Administradoras de Bens, Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic) Omar Anauate, já não existe “senso de urgência” entre os moradores neste momento.
“A maioria optou por lançar somente campanhas de conscientização. Não são muitos os condomínios que foram atrás de investimentos mais duradouros. Boa parte discute o tema em assembleias com os moradores, mas a comoção entre eles foi maior na época em que se discutia um rodízio no Estado”, relata.
O personal trainer André Fiedler logo percebeu a contenção de custos com medidas para o reaproveitamento da água, e de uma maneira nada feliz: no bolso. Há cerca de um ano, ele e outros dois amigos decidiram iniciar uma empresa para instalar cisternas para captação de água da chuva.
Fiedler conta que seus principais clientes são cidadãos com alto nível de engajamento nas questões relacionadas ao meio ambiente e, ao lado deles, estão justamente os condomínios. Mas muitos síndicos acabam desistindo da ideia logo após o primeiro contato.
“Recebemos muitos pedidos de orçamento, mas precisamos responder a uns 15 e-mails para fechar uma instalação, em média. A maioria dos chamados não dão em nada, então ainda não consigo largar minhas outras atividades”, lamenta Fiedler.
Desaceleração da economia
Além de deixarem de investir em soluções para reaproveitar a água, os condomínios da Grande São Paulo também começam a dar sinais de que vão retomar os níveis de consumo registrados em períodos anteriores.
Segundo levantamento da Aabic, o valor médio da conta de água nos condomínios paulistas foi de R$ 2.846 em setembro (o último mês cujos dados foram compilados). O montante é praticamente o mesmo registrado no mesmo mês de 2014, quando o valor médio foi de R$ 2.881. Até então, os cerca de 15 mil condomínios que integram a associação haviam reduzido os gastos com água em todos os meses do ano, na comparação com os mesmos períodos de 2014.
“Hoje em dia a economia de água não é um assunto que mobiliza tanto as pessoas. Passou aquela comoção, até mesmo na mídia, e isso mexia muito com a preocupação das pessoas”, comenta Anauate.
Roseli Doratioto é responsável pela administração de dez prédios comerciais na região central e em áreas nobres da cidade, como Pinheiros e a avenida Faria Lima, ambas na zona oeste. Ela reconhece que a amenização da crise hídrica conteve as ações para a economia de água.
“Parte do pessoal investiu no passado e agora voltou a aumentar o consumo. Acho que falta haver um trabalho de conscientização permanente, porque sem ele as pessoas ficam desencanadas”, opina Roseli, destacando que os edifícios que ela administra não sofrem com a falta de água resultante da redução de fluxo promovida pela Sabesp.
E já que hoje faltam clientes dispostos a investir em cisternas (a instalação de um equipamento para uso doméstico fica em torno de R$ 3 mil), a empresa do personal trainer André Fiedler decidiu partir para outra modalidade de serviço.
Agora eles também passaram a prestar consultoria para pessoas que queiram economizar trocando equipamentos antigos por outros mais eficientes, como registros e encanamentos. “Afinal, tenho três filhos para criar!”, ressalta Fiedler entre risos.